Ana Carolina

Qual É?

Ana Carolina


Marés muito altas, lucros omissos
Um fio, um talho na mão
Poemas, derrotas margens de risco
Num rio afogado em seu vão

E o googleísmo, ateu, induísmo
Personas, sou quem eu quiser
No meu, seu abismo, cinismo
Eu mando meu tchau, meu adeus, meu até

Qual é?
Qual é?
Qual é?
Qual é?

E roda sua vida, seu papel
Mais sabe de si ser seu próprio vilão
No giro contrário do seu carrossel
Um vinil de pós-rock alemão

Olhando o mundo lá fora
Vai perceber que nunca soube quem é
Dentro do corpo em que mora
No morro da Penha ou no museu Dorsay

Qual é?
Qual é?
Qual é?
Qual é?

A origem do mundo ou a parada gay
O seu pranto, seu líquido sal
Um filme da fatalidade da vez
Ou a banalidade do mal

Amores no shuffle
Ou banco de sampler
Não vão batucar na colher
Alô criatura do seu próprio buffer
Não sabe o que é samba no pé

Qual é?
Qual é?
Qual é?
Qual é?

Atrasado o Brasil faz sua fama
Só o preconceito esse nunca atrasou
Vestindo um Dolce & Gabbana
Um político vota contra o nosso amor

Aí já é tarde e sem lei
Rodou de pai pra filho, o mesmo que é
Ensinou a chacina não gay
Babaquice passou de mané pra mané

Qual é?
Qual é?
Qual é?
Qual é?

Zera seus traumas e enganos
É dor que dói anos e não se desfaz
Pedaços de vida, lembranças
A gente não escolhe o que a memória traz

E desce a enxurrada da história
Manadas de putas, um ciber café
Em Andaluzia meu guia
Cuidado que o touro é quem grita olé

Já é!
Já é!
Já é!
Já é!

Corre mundo, ferro e fogo
Nas frestas do séculos enxergo através
Das dores que doem de novo
E lá vem lacan nos olhar de viés

Na Lapa yo soy marco zero
De samba a bolero eu dou meu rolé
Desejos com data marcada
Essa gata ainda vai me beijar se eu quiser

Já é!
Já é!
Já é!
Já é!

Um filho, ato falho, uma trilha
Um atalho, embrião sem coração, sem rim
Na esfera de eu ser quem eu era
Não espera do mundo um futuro sem mim

Protege seus santos na bolsa
No metrô São João, Sebastião, San Mareais
Na cruz um traveco, outra boca
I don't know Maria Wi-fi São José

Já é!
Já é!
Já é!
Já é!

Sou Carmem sou bereguendéns
Sou eu, meus seguidores, vã conexão
E ninguém pergunta ninguém
Já disse mil vezes que sim, só que não

Sou eu meu clã, meu divã
Sou homem, sou meu mito, sou minha mulher
E se não gostar que se mande
Eu repito
Porque eu sou quem bem eu quiser

Já é!
Já é!
Já é!
Já é!
Compositor: Ana Carolina de Souza (Ana Carolina) (UBC)Editor: Ana Z (UBC)Administração: Sony Music Publishing Edicoes Musicais Ltda (UBC)Publicado em 2017 (18/Jan) e lançado em 2017 (15/Fev)ECAD verificado obra #14189447 e fonograma #12940950 em 11/Abr/2024 com dados da UBEM

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