Arthur de Faria & Seu Conjunto

Sexo Na Cabeça

Arthur de Faria & Seu Conjunto


Lembro-me como se fosse há oito bilhões de anos
Eu era uma célula recém-chegada do fundo do miasma
Ainda deslumbrado com a vida agitada da superfície,
E você era de lá, um ser superficial, viciada em amônia, linda!

Nós dois queríamos, e não sabíamos o quê...
Namoramos um milhão de anos, sem saber o que fazer (sempre aquela ânsia)
Deve haver mais do que isso,
Amar não deve ser só roçar membranas

Você dizia:
- Eu deixo! Eu deixo!
E eu dizia: O quê?! O quê?!?
Até que um dia...

Um dia minhas enzimas tocaram as suas,
E você gemeu, meu amor,
- Assim! Assim!
E você sugou meu aminoácido, meu amor (Assim! Assim!)
E, de repente, éramos uma só célula.
Dois núcleos numa só membrana,
Até que a morte nos separasse.
Tínhamos inventado o sexo, e vimos que era bom.
E, de repente, todos à nossa volta estavam nos imitando
Nunca uma coisa pegou tanto!

Crescemos, multiplicamo-nos, e o mar borbulhava.
O desejo era fogo e lava, e o nosso amor aumentava (Aquela ânsia)
- Mais! Mais! Assim! Assim!
Você não se contentava em ser só célula
Uma zona erógena era pouco...

Queria fazer tudo, tudo. Virou ameba.
Depois peixe, depois réptil, meu amor, e eu atrás (Aquela ânsia!)
Crocodilo, elefante, borboleta, centopéia, sapo...
E, de repente, diante dos meus olhos: Mulher! (Assim! Assim!)
Deus é luxúria, Deus é ânsia.
Depois de milhões de anos, ele acertara a fórmula.
- É isso, gritei. Não mexe em mais nada!

Vimos que era complicado, nunca reparáramos na nossa nudez,
E, de repente, não se falava em outra coisa.
Você cobriu seu corpo com folhas e eu construí
Várias civilizações pra esconder o meu (Até que um dia).

Um dia chegaríamos a uma zona erógena além do sol,
Como o pólen, meu amor, no espaço.
Roçaríamos nossas membranas de fibra de vidro, capacete a capacete
Nossos tubos de oxigênio se enrascariam
Veríamos que era difícil, eu manipularia sua bateria seca,
e você gemeria como um besouro eletrônico (Assim, assim!)
Um dia estaríamos velhos, sexo só cabeça.
As abelhas andariam a pé, nada se recriaria, as frutas secariam.

Eu afundaria na memória, de volta
Às origens do mundo:
O mar
Tem um deserto
No fundo.

Compositores: Arthur de Faria Silva (Arthur de Faria), Luiz Fernando Verissimo
ECAD: Obra #12847759

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