Depois da bossa nova e do clichê tropical Muito mais do que novela, futebol e carnaval É a periferia multicultural Espontânea rebeldia de um Brasil marginal Polícia, milícia, medo e coerção Latifúndio da terra e da comunicação É o índio de Iphone, é o menino de Belém E a novinha de barriga pra ganhar outro neném Tem racismo? Tem. E um abismo, man Entre a cerveja artesanal e o camelô que vem no trem Esgoto a céu aberto, telha de amianto Tem padre, pastor, tem pajé e pai de santo A floresta sente o fel, o agrobusiness quer bis Do poder do anel na caneta do juiz Mas o instinto criativo dribla a sanha opressora Porque em terra de saci, qualquer chute é voadora
São muitos os Brasis, perceba no sotaque Mas todos gritam juntos com a seleção no ataque Coxinha, petralha, Gregório, Constantino Sem água na torneira têm o mesmo destino De carona nos tratores do progresso inevitável Haja eucalipto e copinho descartável Se o Neymar é pica, se a Gisele é zica O deputado mais votado da eleição é o Tiririca Onde tudo se discute, menos a democracia Sequestrada e amputada, Saramago advertia A cultura cria, o mercado se apropria "Je suis Amarildô", mas a justiça tem miopia O que não tem é derrotismo que abale a auto-estima Do mulato, bastardo, anti-herói, Macunaíma Bota água no feijão e afina o tamborim De cabeça erguida ostento o orgulho tupiniquim
Compositores: Danilo Ferreira Alves Cutrim (Danilo Cutrim), Vitor Isensee e Sa (Vitor Isensee), Nicolas Christ Fassano Cesar (Nicolas Christ) ECAD: Obra #14552174 Fonograma #12130663