Carlos Eduardo

Recaída

Carlos Eduardo


Pela vigésima vez fraquejei não resisti
Depois de um mês longe do crack, recaí
Carbonizei no cachimbo as esperanças da família
Que deixou na clínica todas economias
Com cãibras abdominais, suor excessivo
Esqueci empréstimo consignado pra me manter vivo
A convulsão da abstinência venceu a laborterapia
A dinâmica de grupo, a reunião emotiva
Me dei alta do tratamento prescrito
Fugindo do centro de recuperação pra dependente químico
Mais uma vez virei caça da equipe de remoção
Com sua ambulância pós pra reinternação
Não comecei com maconha como escreve a veja
Mas com parente oferecendo um copo de cerveja
Eu era um jovem normal que pra secretaria municipal
Não se encaixava na política de saúde mental
Cheirava, dava uns dois, controlava a situação
Até ouvir: "dá uma pipada, experimenta a sensação"
Em uma semana troquei a vocação por estetoscópio
Por seis meses de vida no novo vale dos leprosos
Minha mãe só entendeu meu comportamento de risco
Quando o vapor veio cobrar o que eu tinha consumido
"Aí tia sem querer apavorar
Seu filho deve 100 conto e vai morrer se não pagar"

Recaí to de volta, itinerário das covas
Sou da coca solidificada forma as pedras preciosas
Qi devastado, cinco na fissura
Pronto pra esquartejar por cinco minutos de loucura

Mesmo o governo da assistência clínica
Ergue muro pra eu não roubar o motorista da captiva
To de volta as pistas e aos golpes estratégicos
Adequado a degradação dos meus músculos esqueléticos
Tenho que catar vítima que num esboça reação
No meu estado nem com idosa da pra sair na mão
Outro dia juntou uns bico pra me linchar
Dei um bote num relógio não tive fôlego pra vazar
Não é a droga que põe cadeado no calcanhar
É o processo tratar de aliciar, viciar e abandonar
Pro sistema quanto mais regiões de viciados
Menos políticos cobrados, condenados e caçados
A população das cracolândias não exige trabalho
Escolas, universidades, aumento de salários
Devo ter uns 50 de neurônios vivos
Atormentados por sintomas, paranóides e delíria
A preocupação da minha saga depressiva
É fumar e não cair na limpeza social dos logistas
A droga só é a decisão acertada
Pra quem quer a mãe no ministério da saúde acorrentada
Implorando leitos pra dependentes em hospital
Psiquiatra no centro de atenção psicossocial
Medida drástica, a fechadura foi trocada
Enquanto eu não aceitar me tratar to expulso de casa

Recaí to de volta, itinerário das covas
Sou da coca solidificada forma as pedras preciosas
Qi devastado, cinco na fissura
Pronto pra esquartejar por cinco minutos de loucura

O sus não trata viciado pra não quebrar o acordo fechado
Com a fazenda de desintoxicação do empresário
Pra dependente, a única vaga do setor público
É na quadra ou do cemitério dentro de um túmulo
O que ignorante vê como desculpa pra delinquência
Pra organização mundial da saúde é doença
Mereço respeito, amor e solidariedade
Como portador de aids, diabetes alzheimer
Era verão e nem um corre tinha sido frutífero
Precisava saciar a fome do meu vício mortífero
Lembrei do meu caixa 24 horas antigo
Que a quase um ano não falava comigo
Pulei o portão da minha ex-casa, invadi
Minha mãe na cozinha aterrorizada olhou pra mim
Tentou se defender da minha fúria com a vassoura
Pus pra dormir com um direto no meio da boca
Transtornado, espancava a pessoa que mais me amava
A fissura me consumia e pra mim ela era a culpada
Peguei um quadro na parede e uma batedeira
Corri mais rápido que usain bolt pra biqueira
Depois do efeito da noitada acordei na delegacia
Sendo afogado sem entender pelo plantonista
Fiquei incrédulo quando socos curaram minha amnésia
Como pude matar minha mãe com 30 facadas por uma pedra

Letra enviada por null

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