Foi trabalhar recomendada pra dois gringos, Logo assim que chegou do interior, Era um casal tipo metido a granfino, Mas o salário era tipo um horror.
A tal da madame, Tinha a mania esquisitona de bater, E baixava a porrada, Quando a coisa tava errada não queria nem saber.
Doméstica... Ela era doméstica, Sem carteira assinada, Só caía em cilada, Era empregada doméstica.
Nunca notou a quantidade de giletes, Não reparou a mesa espelhada no salão, Não perguntou o que que era um papelote, Baixou "os home" ela entrou no camburão.
Na delegacia sua patroa americana ameaçou: "Lembra que eu sou uma milionária, Eu fungava de gripada, Não seja otária por favor.",
Doméstica... Traficante disfarçada de doméstica, Era manchete nos jornais, O casal lhe deu pra trás, Sujando brabo pra doméstica.
No presídio aprendeu com as companheiras, A se dar bem e a descolar como ninguém, Ficou famosa no ambiente carcerário, Como a mulata que nasceu pra ser alguém.
Pois não é que a doméstica, Conseguiu uma prisão doméstica, Saiu por bom comportamento, Mas jurou nesse momento, Vingar a raça das domésticas.
Então alguém lhe aconselhou logo de cara, "Dá um passeio, vê se arranja um barão", Porque melhor que o interior de uma cela, E ter turista e faturar no calçadão.
Até que um dia, Um Mercedinho prateado buzinou, Era um louro alemão que lhe abriu a porta do carro, E lhe tacou um bofetão..
Doméstica...virou uma baronesa doméstica, Mesmo com as taras do barão, Segurou a situação, Levando uma vida doméstica.
Realizada em sua mansão em Stutgard, Ouvindo Mozart e Beethoven de montão, Com um pivete mulatinho pela casa, Que era herdeiro de olho azul como o barão.
Precisou de uma babá, Botou um anúncio bilíngüe no jornal, Seu mordomo abriu a porta, Uma loira meio brega, uma yankee de quintal.
Doméstica...era a americana de doméstica, A nêga deu uma gargalhada, disse: "Agora tô vingada, tu vai ser minha doméstica".