Pela vigésima vez fraquejei não resisti Depois de um mês longe do crack, recaí Carbonizei no cachimbo as esperanças da família Que deixou na Clínica todas economias Com cãibras abdominais, suor excessivo Esqueci empréstimo consignado pra me manter vivo A convulsão da abstinência venceu a Laborterapia A dinâmica de grupo, a reunião emotiva Me dei alta do tratamento prescrito Fugindo do Centro de Recuperação pra Dependente Químico Mais uma vez virei caça da equipe de remoção Com sua Ambulância a postos pra reinternação Não comecei com maconha como escreve a Veja Mas com parente oferecendo um copo de cerveja Eu era um jovem normal que pra Secretaria Municipal Não se encaixava na Política de Saúde Mental Cheirava, dava uns dois, controlava a situação Até ouvir: "Dá uma pipada, experimenta a sensação" Em uma semana troquei a vocação por estetoscópio Por seis meses de vida no novo vale dos leprosos Minha Mãe só entendeu meu comportamento de risco Quando o vapor veio cobrar o que eu tinha consumido "Aí tia sem querer apavorar Seu filho deve 100 conto e vai morrer se não pagar"
Recaído de volta ao itinerário das covas Onde a coca solidificada forma as pedras preciosas Q.I. devastado, sigo na fissura Pronto pra esquartejar por cinco minutos de loucura
Mesmo o governo da Assistência Clínica Ergue muro pra eu não roubar o motorista da Captiva Tô de volta as pistas e aos golpes estratégicos Adequado a degradação dos meus músculos esqueléticos Tenho que catar vítima que num esboça reação No meu estado nem com idosa da pra sair na mão Outro dia juntou uns bico pra me linchar Dei um bote num relógio não tive fôlego pra vazar Não é a droga que põe cadeado no calcanhar É o processo estatal de aliciar, viciar e abandonar Pro sistema quanto mais legiões de viciados Menos políticos cobrados, condenados e caçados A população das Cracolândias não exige trabalho Escolas, universidades, aumento de salários Devo ter uns 50 por cento de neurônios vivos Atormentados por sintomas de paranóide e delírios A preocupação da minha saga depressiva É fumar e não cair na limpeza social dos logistas A droga só é a decisão acertada Pra quem quer a Mãe no Ministério da Saúde acorrentada Implorando leito pra dependentes em Hospital Psiquiatra no Centro de Atenção Psicossocial Medida drástica, a fechadura foi trocada Enquanto eu não aceitar me tratar tô expulso de casa
Recado de volta ao itinerário das covas Onde a coca solidificada forma as pedras preciosas Q.I. devastado, sigo na fissura Pronto pra esquartejar por cinco minutos de loucura
O Sus não trata viciado pra não quebrar o acordo fechado Com a fazenda de desintoxicação do empresário Pra dependente, a única vaga do setor público É na quadra 1 do cemitério dentro de um túmulo O que ignorante vê como desculpa pra delinquência Pra Organização Mundial da Saúde é doença Mereço respeito, amor e solidariedade Como portador de Aids, diabetes Alzheimer Era verão e nem um corre tinha sido frutífero Precisava saciar a fome do meu vício mortífero Lembrei do meu caixa 24 horas antigo Que há quase um ano não falava comigo Pulei o portão da minha ex-casa, invadi Minha Mãe na cozinha aterrorizada olhou pra mim Tentou se defender da minha fúria com a vassoura Pus pra dormir com um direto no meio da boca Transtornado, espancava a pessoa que mais me amava A fissura me consumia e pra mim ela era a culpada Peguei um quadro na parede e uma batedeira Corri mais rápido que Usain Bolt pra biqueira Depois do efeito da noitada acordei na delegacia Sendo afogado sem entender pelo plantonista Fiquei incrédulo quando socos curaram minha amnésia Como pude matar minha Mãe com 30 facadas por uma pedra!?
Compositor: Carlos Eduardo Taddeo (Eduardo) ECAD: Obra #11979181 Fonograma #10406958