- Ó musa do meu fado Ó minha mãe gentil Te deixo consternado No primeiro Abril Mas não sê tão ingrata Não esquece quem te amou Em tua densa mata Se perdeu e se encontrou Ai esta terra ainda vai Cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se Um imenso Portugal.
No fundo eu sou um sentimental Todos nós herdámos do sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo, além da síflis, é claro. Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar; esganar; trucidar; meu coração fecha os olhos e sinceramente, chora.
Com avencas na cantiga Alecrins no canavial Licores na moringa Um vinho tropical E a linda mulata Com rendas do Alentejo De quem numa bravata Arrebata um beijo.
Ai esta terra ainda vai Cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se Um imenso Portugal.
Meu coração tem o sereno geito e as minhas mãos o golpe duro e preste, de tal maneira que depois de feito, desencontrado eu mesmo me contesto. Se trago as mãos distantes do meu peito É porque há distância entre intenção e gesto, e se meu coração nas mãos estreito, a sombra súbita impressão do incesto. Quando me encontro Guitarra e sanfonas Jasmins, coqueiros, fontes Sardinhas, mandioca Num suave azulejo.
E o rio Amazonas Que corre em Trás-os-Montes E numa pororoca Desagua no Tejo.
Ai esta terra ainda vai Cumprir seu ideal Ainda vai tornar-se Um imenso Portugal.
Compositores: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque), Rui Alexandre Guerra Coelho Pereira (Ruy Guerra) ECAD: Obra #2074369 Fonograma #1092133