Ita Cunha

Encilha

Ita Cunha


Com a mão canhota sustente
A pescoceira torcida
O buçal trança de sete
É feitio do João Maria
Bamo dar alegria pra o dia
Pode encilhar assoviando
Enquanto vou te alcançando
Os apetrechos da encilha

Primeiro estenda o xergão
Com suas tropilhas de pelos
Da sobra de algum novelo
Teceu a China Ramona
Agora é vez da carona
É couro cru bem sovado
E em muitos pousos de tropa
Já fiz de mesa pro assado

Agora sentemo o basto
Esse é quatro cabeça
Por mais feio que pareça
Tem suas léguas de invernada
E a barrigueira esta atada
Com látego ao travessão
Pode dar mais um tirão
Pra firmar bem essas garras

Estendemos dois pelegos
Pretuscos qual noite escura
E a badana com gravura
De iniciais do seu avô
Esta trama? É o cinchador
Agarrado à sobre-cincha
Redonda qual lua cheia
Que vem dormir sobre a quincha

Faltou a mala de poncho
O rabicho e a peiteira
Mas de todas tuas encilhas
Esta recém é a primeira
Só vamos sampar o freio
Com qualquer uma das mãos
Safa a crina do alazão
Apertada com a testeira

Assim se vamo pra o campo
Eu e tu meu patrãozinho
Esta flor esconde espinho
Esta aqui é o bem-me-quer
Já desfolhei por mulher
Que tanto me virou o rosto
Talvez um dia te conto!
Quem sabe um dia qualquer

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