Jayme Caetano Braun

Trovador Negro

Jayme Caetano Braun


Negro de sorriso claro,
Como sinuelo de pampa,
Que sintetizas na estampa
LongĂ­nquas reminiscĂȘncias;
Negro que lembras dolĂȘncias
De alegrias e tristezas
Que andaram nas correntezas
Dos rios de muitas querĂȘncias.

Essa cordeona que abraças
Com ciumenta intimidade,
Traduz - na sonoridade,
Quando teus dedos passeiam,
Madrugadas que clareiam,
Campos pelechando em flor,
Chinocas pedindo amor
E potros que corcoveiam.

E quando a cordeona espichas
Aberta - como prĂĄ um pialo,
E o verso sai - de a cavalo,
Sobre a cadĂȘncia da nota,
Tua mirada remota
Se perde - coxilha acima,
Como quem busca uma rima
Sem saber de onde ela brota.

Tu sim - Ă©s poeta - e o mundo,
PrĂĄ ti - se torna pequeno.
E nem mil poetas - moreno,
Expoentes de Academia,
Campereando - noite e dia,
O vocabulĂĄrio gasto
Podem dar cheiro de pasto
Como tu dĂĄs Ă  poesia.

Negro de sorriso aberto
Como clarĂŁo de alvorada,
Abre essa gaita aporreada,
E canta - a mais nĂŁo poder.
Canta negro - até morrer,
Com força de mil gargantas,
Pois cantando como cantas
Ninguém te iguala em saber.

Compositores: Jayme Caetano Braun, Pedro Marques Ortaca (Pedro Ortaca)
ECAD: Obra #53488

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