Quem dera ouvir o som do pinho preguiçoso Ponteado bem manhoso pra fazer a gente sonhar Acompanhando um canarinho gorjeoso Com seu cantigo choroso pra fazer você ninar
Quem sabe eu passe a vida inteira nessa terra Enfiado na tapera sob a luz do seu olhar Deus deu o dom de cumprir com minha sina Ver seu jeito de menina e sempre, sempre te amar
Tenho amigos foram morar pra cidade Que perderam a liberdade de ver o galo cantar Outros então se esqueceram da idade Lá se foi a mocidade que nem gado pra matar
Aqui no mato tudo é belo e tão divino Tem sorriso de menino vira-lata a ladrar Tiro as esporas, meu chapéu de aba larga Adentro a gruta abençoada e ajoelho pra rezar
Minha escola e meu diploma é a enxada E correndo a invernada para o gado aboiar Trocando a seco com a vida os meus grãos Transformando em ração pro alimento não faltar
Cultivo calos que a lida me oferece A viola é minha prece quando pego a pontear Quem canta espanta e os males afugenta Com oração a gente agüenta e aprendemos perdoar
Tudo que nasce tem seu rumo e seu valor Passo a passo o Criador dá sua vida à proteção Sublinha a voz de consciência e liberdade Trazendo a maturidade que só o tempo pode dar
Como a semente vagarosa germinando Rasga o solo apontando tantas cores combinar Do azul do espaço pincelando a natureza Surge o Artista na grandeza pondo a mão para pintar