Seu moço já puxei cabo de enxada, fiz a roça fiz queimada no alto do chapadão Seu moço já plantei roça de milho, de arroz, feijão de trigo para não faltar o pão Seu moço fiz da seca o alicerce, do suor fiz minha prece, de meus filhos a razão Na tapera fiz meu reino, fiz meu mundo, minha moça olhar profundo, meu esteio meu mourão
Seu moço tive gado na invernada, comitiva desgarrada, fui ponteiro, fui peão Seu moço tirei boi da arribada, fui berrante, fui boiada, fui um cocho sem ração Seu moço bebi leite na mangueira, fui doutor, fui a “parteira”, fui marcado de ferrão Do curral fiz meu lar fiz minha estância, fiz do estrume a fragrância, fiz do pasto meu rincão
Seu moço já ganhei muito dinheiro lançando boi pantaneiro, em cima de redomão Seu moço, já montei em touro brabo em picadeiro fui palhaço, de rodeio campeão Seu moço já fui cela, fui arreio, fui roseta, fui tropeiro, fui sedem, fui esporão Do laço fiz o rumo minha história, dos pialos fiz vitórias, da arena uma paixão
Seu moço os caminhos as estradas, que por mim foram trilhadas, não vivi de ilusão Seu moço de tudo que foi um dia, fui tristeza, alegria, fui poesia, inspiração Seu moço trago os dedos calejados, não de enxada nem machado, de minha voz uma canção Do palco fiz de um sonho minha lira, minha viola caipira, a semente de meu chão