Leonia Oliveira

Exílio

Leonia Oliveira


É como se ainda existisse o exílio
E fosse tirado tudo de mim
É como se eu levasse o tiro
Que foi destinado ao martim.

E o mundo não se importasse com nada,
E não existissem direitos humanos
A tua ausência é a porta fechada
No frio calabouço de amores insanos

É como se ainda existisse o martírio
E fosse acoplado o suplicio em mim
É como se'u fosse o destino de um filho
Que não vingou por não ser ruim

E o mundo não se envergonhasse de nada
E não houvesse comoção mundial
A tua ausência é a dor enjaulada
Da fera que se assusta no próprio quintal

E o mundo me quisesse mundana
E eu fosse santa, um pagão sem igual
Lutando contra uma força tirana
Que mancha meus verdes olhos tachados em jornal

É como se existem negreiros ainda
Ferrolhos de pedra humilhando uma irmã
E eu fosse a tarde que finda,
Num cruel labirinto de alma malçã

E o mundo não se importasse com nada
E não existissem mais que cores vãs
A anistia fosse não inventada
Um tempo de achar doido qualquer coisa sã.

É como se ainda existisse o exílio
E fosse tirado tudo de mim
É como se eu recebesse o tiro
Que foi destinado a qualquer querubim.

E o mundo não se importasse com nada
E não existissem direitos humanos
A tua ausência me fosse apunhalada
E não existissem resgates, médicos ou panos

E o mundo não se importasse com nada
E não existisse desejos cristãos
E o mundo não fosse mais que uma parada
Um auto-exílio em forma de solidão.

Compositor: Leonia Maria de Oliveira (Leonia Oliveira)
ECAD: Obra #30062051

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