Sou filho do interior do grande Estado mineiro Fui um herói sem medalha na profissão de carreiro Puxando toras do mato com doze bois pantaneiros Eu ajudei desbravar nosso sertão brasileiro Sem vaidade eu confesso Do nosso imenso progresso Eu fui um dos pioneiros
Veja bem como o destino muda a vida de um homem Uma doença malvada minha boiada consome Só ficou um boi mestiço que chamava lobisomem Por ser preto igual carvão foi que eu lhe pus esse nome Mas pouco tempo depois Eu vendi aquele boi Pros filhos não passar fome
Aborrecido com a sorte dali resolvi mudar E numa cidade grande com a família fui morar Por eu ser analfabeto tive que me sujeitar Trabalhar num matadouro para o pão poder ganhar Como eu era um homem forte Nuqueava o gado de corte Pros companheiros sangrar
Vejam só como o destino muda a vida de repente, Eu que às vezes chorava quando um boi ficava doente, Ali eu era obrigado matar a rês inocente Mas certo dia o destino me transformou novamente Um boi da cor de carvão Pra morrer na minha mão Estava na minha frente
Quando vi meu boi carreiro não contive a emoção, Meus olhos encheram d'água meu pranto caiu ao chão O boi me reconheceu e lambeu a minha mão Sem poder salvar a vida do boi de estimação Pedi a conta e fui embora Desisti na mesma hora Desta ingrata profissão.
Compositor: Francisco Gottardi (Sulino) ECAD: Obra #18469 Fonograma #1891059