Num transporte de boiada eu não posso me lembrar Numa viagem que fiz de Goiás e Cuiabá Numa Sexta - Feira Santa, veja só o que foi se dá Quando a tarde foi caindo deu um forte temporal.
Relampeava e trovejava, clareando o mundo inteiro O temporal foi deixando os animais em desespero Nesta viagem nós levávamos quinhentos bois pantaneiros E na frente caminhava, um “Boi Fumaça”, traiçoeiro.
Mesmo em baixo de chuva nossa viagem continuava, Por não ter lugar de pouso lá onde nós se encontrava. Meu filho era o ponteiro que na frente caminhava, Repicando o seu berrante, a boiada acompanhava.
Bem perto de uma porteira foi assim que aconteceu: Seu burro não encostava, e pra baixo ele desceu. O boi fumaça, então veio e meu filho não percebeu, Na guampa do pantaneiro, no ar ele suspendeu.
Fiquei louco nessa hora, quando meu filho gritou, Eu quis salvar a sua vida mas não adiantou, O chifre do boi Fumaça com seu sangue avermelhou, Minhas lágrimas sentidas com a chuva se misturou.
Perdi meu filho querido, nesta viagem traiçoeira, Mas guardei no coração suas palavras derradeiras: - Eu queria ser peão, mas findou minha carreira, Papaizinho me enterre perto dessa porteira.
Abandonei essa lida meus prazeres pra mim morreram Mas não posso me esquecer daquele golpe traiçoeiro Quando escuto um berrante, me arrepia o corpo inteiro Me lembro do meu filho e o tempo de boiadeiro
Compositores: Francisco Gottardi (Sulino), Moacyr dos Santos ECAD: Obra #3956254 Fonograma #2377