Só estou no busão em mais um dia nublado Passeio nesse frio mas já fui frio o mês inteiro, meu chegado O fone é meu companheiro, ouço um som do passado E percebo que o carcereiro tá tão preso quanto o encarceirado
Estou prendendo a liberdade Põe essa mochila pra frente! Tá atrapalhando quem passa, ô Ansiedade! Não uso banco preferencial Prefiro viagens curando infelicidades
Valor salgad-dolorido o furo da faca Cê tem passe pra vender pro outro lado da catraca? Azar no amor, não é bom contar com a sorte Nem sempre é sobre transporte, e se não souber lidar com o corte
Tua viagem vital será complicada Psicografia não te leva até a chegada Conselhos são bem-vindos mas o rim tá aí pra isso Planeje teu trajeto mas não conte com uma ótima largada
Pegue a condução que lhe servir De vez em quando vale à pena se aventurar no incerto Vá a qualquer lugar por perto Também vá ao fim do mundo se for pra tirar a dúvida do teto
Entre um semáforo, esquina ou escanteio, Vejo um feio, um bonito, um belo e um esquisito Atrito entre a conversa das senhoras Desdenhando o vendedor de sonhos: "Vendendo porcaria essas horas?"
Engolir sapo pra ele não estava nos planos Frequentar o inconveniente não é o melhor remédio Mas acho que entendo o lado emissor Em vez de estar roubando, estou matando o tédio
Com minha arte, minha escrita Talvez simpática e abstrata, não diria bonita Pois a beleza está nos olhos e nos ouvidos de quem interage Admiro o oásis no final, não espero miragem
E assim vamos, ponto à ponto ligando as necessidades Às costuras desse pano de concreto que chamamos de cidade Ela é apertada e já sabemos muito bem Que com transporte ou sem transporte atropelamos sentimentos que nos fazem de refém
Disso eu ainda vou me curar Antes do ponto final, preciso me encontrar Pois na porta do que vem por aí pretendo entrar Enquanto deixo me florescer, uns tentam me podar
Há uma Rosa na fila do terminal Que durou uma eternidade, mas murchou e então fez a baldeação De floricultor, esse desbotou e está mal Já que não tem como reajeitar a conexão
Corações se desconectam, e após essa viagem O frio espalha a insegurança e a carência me beija Mas temporariamente tudo isso passa Quando no meu fone a próxima música chega, veja!
Compositor: Luccas dos Santos Folha de Deus (Luccas Folha) ECAD: Obra #30022897