Passei a velha porteira Na curva da encruzilhada Andei pisando nos restos Da tapera derrubada Voltei pra matar saudade Da minha vida passada Quando aquela paragem Foi um pouso de boiada
Lembrei da lida estradeira Junto com a companheirada Tocando bois pantaneiros Na marcha empoeirada O toque do berranteiro Anunciando a alvorada E os boiadeiros gritando E a boiada levantando No romper da madrugada
Ainda existe o fogão Da cozinha improvisada O pé do velho angiqueiro Uma trempa enferrujada Até parece que eu via A fumaça esbranquiçada Serpenteando no espaço Da noite enluarada
Notei que tudo mudou Ao entrar pela invernada A pastagem do piquete Nunca mais foi reformada Do casarão do retiro Quase não resta mais nada Esquecida no relento Onde o cipó cinzento Fizeram sua laçada
A estrada de chão batido Também foi abandonada Fizeram uma rodovia Com pista toda asfaltada Os caminhos boiadeiros Não precisam de peonada E o posto de combustível Hoje é o local da pousada
Depois de tantos janeiros Viajando de sul a norte Foi vencido pela idade Quem era valente e forte Mas chegou o fim da jornada Sou igual um boi de corte Esperando a despedida Arrasto a canga da vida Pelo corredor da morte