Quando, seu moço, nasceu meu rebento Não era o momento dele rebentar Já foi nascendo com cara de fome E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar Fui assim levando, ele a me levar E na sua meninice ele um dia me disse Que chegava lá
Olha aí Olha aí Olha aí, ai, o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri
E ele chega Chega suado e veloz do batente E traz sempre um presente pra me encabular Tanta corrente de ouro, seu moço Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro Chave, caderneta, terço e patuá Um lenço e uma penca de documentos Pra finalmente eu me identificar
Olha aí Olha aí, ai, o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri
E ele chega Chega no morro com o carregamento Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador Rezo até ele chegar cá no alto Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola Boto ele no colo pra ele me ninar De repente acordo, olho pro lado E o danado já foi trabalhar
Olha aí Olha aí, olha, o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri
E ele chega Chega estampado, manchete, retrato Com venda nos olhos, legenda e as iniciais Eu não entendo essa gente, seu moço Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo Acho que tá lindo de papo pro ar Desde o começo, eu não disse, seu moço Que ele disse que chegava lá
Olha aí Olha aí Olha aí, ai, o meu guri, olha aí Olha aí, é o meu guri Meu guri É o meu guri É o meu guri
Compositor: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque) ECAD: Obra #1663 Fonograma #1074366