Essas meninas da savassi Em cada esquina da savassi A tarde cai na face lisa da cidade A lata azul imensa cobra escorrendo pelas ruas da cidade
O gosto cru do cão que late a mão que pede alguém me mate A voz é cega e segue sendo sem disfarce Quais são as ruas da savassi? Quem são as meninas da savassi?
"Até o chão", "na sala", promiscuidade Repara as balas, tamanha variedade Receba às claras sem pudor a sua parte Invade os olhos de quem quer o seu resgate
Em cada ponto de vista a mira aponta um pranto Em qual retina é que o sangue se esfria? A vida ria mais cocaína Savassi, a filha da puta via um céu azul, um outro corpo nú
Um outro corpo Um outro porco Um outro soco no estômago ninguém Ninguém aguenta mais passar o resto do dia parado, suado Dentro da porra de um ônibus lotado, engarrafado Ninguém aguenta, Ninguém aguenta mais trabalhar o dia inteiro todo dia Pra ter o que? pra ter pra que? pra ter com que? Pra quê? Não sei o meu futuro, eu sei O meu escuro horizonte belo longe sonho Quase sonho,sempre sonho o mesmo sonho Acordo cansado ao som do tiro que é certo O medo é certo E o certo não é mesmo reto É quase sempre luxo Como este verso frouxo Rouco, manco, santo suicida Correndo como criança louca atrás de uma bala perdida Perdida toda a lucidez: a luz que falta Nos olhos de quem vê com grande espanto Cínico espanto:
As vitrines da savassi se partirem num silêncio frio E então no vazio dos olhos de vidro das bonecas lindas refletirem Outras meninas pobres, podres, feias Filhas de um outro horizonte de onde vem, pra onde vão Ônibus verdes anunciam Outros nomes Kátia,letícia, juliana, isabel Jaqueline, suzana Goretti, betânia Outras meninas Outros lugares Outras meninas A mesma savassi Quem sabe?