Nada mal para alguém que só ganhou um disco de ouro, teve dois discos no top 10 e um single no top 20 em sua carreira. O que apenas comprova a clássica frase dita pelo músico e produtor Brian Eno. Foi ele quem disse que "apenas um punhado de pessoas comprou os discos do Velvet, mas todas elas formaram uma banda."
Lou Reed estava com 71 anos e não andava bem de saúde. O nova iorquino nascido em 1942 recentemente havia precisado passar por um transplante de fígado que, a princípio, tinha sido bem sucedido. O próprio cantor chegou a declarar que "era um milagre da medicina moderna" e que estava doido para poder voltar aos palcos.
Carreira

Isso porque o Velvet Underground foi talvez a primeira banda que resolveu se colocar propositadamente contra a música reinante.
Em uma época de movimento hippie, paz, amor, harmonia, maconha e LSD, o Velvet saiu pela tangente e gravou um disco cheio de letras sobre drogas pesadas, sadomasoquismo, paranoia e solidão. Sabiamente eles embalaram algumas dessas canções em arranjos e melodias quase pop, mas também não abriram mão de cobrir outras faixas com uma série de ruídos e distorções que até hoje estão longe de parecerem comuns.

Sem Cale o Velvet se tornou de fato a banda de Lou Reed, que com ele gravou dois discos mais próximos do formato rock'n'roll. Ambos igualmente cultuados.
Lou Reed deixou o Velvet Underground em 1970 e partiu para a carreira solo. Ele conheceria o auge de sua popularidade em 1973 com o álbum "Transformer" que trazia o single "Walk On The Wild Side". O disco foi produzido por David Bowie, que havia se tornado o maior popstar da Inglaterra, e é inegável que a força dada pelo agora amigo e fã foi fundamental para que o trabalho fosse mais ouvido.

Seguiram-se assim um dos álbuns mais depressivos de todos os tempos -"Berlin" de 1973, hoje também considerado um clássico - discos ao vivo com arranjos hard rock para seus sucessos e o trabalho mais radical já feito por um músico do chamado mainstream.
"Metal Machine Music", de 1976, foi um álbum duplo contendo nada além de distorções de guitarra. Entre esses lançamentos, Lou também gravou discos mais "comuns" - vários deles bem acima da média.
A chegada do punk em 1977 ajudou a tornar Lou Reed uma espécie de padrinho do movimento, cimentando de vez o seu status de lenda que deram a ele a tranquilidade para seguir tranquilamente com a sua carreira, mesmo sem vender muitos discos.

A última década de Lou Reed foi de relativo silêncio. Ele lançou poucos discos e se mostrava mais interessado em praticar tai chi chuan do que em gravar ou fazer shows.
Esses anos também mostram um Lou mais em paz consigo e também com o mundo, deixando um pouco para trás a figura do roqueiro carrancudo que adora abusar dos jornalistas nas horas das entrevistas.

O que se sabe é que Reed ficou muito incomodado com isso, algo até irônico para quem passou a vida inteira sem dar bola para críticos e críticas.

Mas no final, isso pouco importa. Lou Reed há tempos sabia que havia transformado definitivamente o mundo do rock, seja aproximando-o do mundo da literatura - ele também foi um dos maiores letristas do planeta - ou ao mostrar que valia a pena seguir os seus instintos, mesmo que isso pudesse significar falta de sucesso ou incompreensão.
Essa é a lição que ele deixa e que continuará sendo seguida por qualquer artista que busque algo mais que o mero sucesso momentâneo.
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