A morte de David Bowie deixa um enorme vácuo no mundo da música. Um dos músicos mais influente e importantes da segunda metade do século 20, sua música influenciou praticamente toda a música pop moderna e contemporânea.
A lista é enorme e vai da geração punk e pós punk da segunda metade dos anos 70, passa por Madonna, o rock e pop dos anos 80, grunge, Radiohead, Strokes, Lady Gaga, LCD Soundsystem, Arcade Fire e além.
Resumindo: é difícil encontrar um artista surgido depois de meados da década de 70 que não se declare influenciado por alguma, ou várias, de suas fases.
Bowie não apenas gravou ótimos discos - e são vários considerados entre os melhores álbuns de rock de todos os tempos - mas também se mostrou um ícone da moda e tinha a capacidade de antecipar tendências musicais, seja através de seus trabalhos, ou ao chamar a atenção para artistas novos ou pouco conhecidos.
Não fosse por ele, é bem provável que nomes como Velvet Underground, Stooges, Kraftwerk ou, mais recentemente, Arcade Fire estariam na obscuridade.
Ainda que o senso comum diga que a grande fase de Bowie vá do começo dos anos 70 ao início dos 80, sua obra posterior também está repleta de grandes momentos.
Mas é óbvio que a sua produção setentista é a que sempre será lembrada como uma das mais instigantes de todos os tempos. Nesse texto tentamos resumir um pouco da carreira desse artista fundamental.
David Bowie começou cedo. Desde 1964, com 17 anos, ele já estava entrando em bandas e tentando deixar a sua marca. mas o caminho até o sucesso foi longo. Apenas em 1969, com o single "Space Oddity" ele atingiu o sucesso no Reino Unido.
Ainda assim, por um tempo, parecia que ele estava fadado a se tornar um artista de um só sucesso. A maré para ele começa a mudar com "The Man Who Sold The World" de 1970, ainda que sua sonoridade mais calcada no hard rock tenha agradado mais nos EUA que em sua terra natal. O álbum também marca o início da parceria dele com o guitarrista Mick Ronson, que seria fundamental nos anos que seguiram.
A primeira obra-prima indiscutível do cantor foi "Hunky Dury" de 1971 - eleito recentemente o terceiro melhor disco de todos os tempos pelo NME e o 11° pela Uncut. Aqui ele começa a mostrar todo seu alcance, seja nas faixas mais pesadas influenciadas pelo Velvet Underground como "Queen Bitch", em baladas estelares ("Life On Mars?") ou em sues momentos mais experimentais - o caso de "The Bewlay Brothers". O trabalho também traz aquela que, anos depois, seria enxergada como a carta de intenções do artista: "Changes" ("Mudanças") do imortal verso "Vire-se e encare o estranho".
O sucesso no reino Unido chegaria de forma avassaladora em 1972 com "Ziggy Stardust", o álbum conceitual sobre o extraterrestre que chega ao planeta cinco anos antes do fim do mundo.
Perfeito do início ao fim, o álbum deu início a "Bowiemania" e representa o ápice do glam rock, o movimento que renovou o rock ao trazer conceitos como a androginia para o centro da música.
Nos anos seguinte foi Bowie e seu personagem Ziggy, tornaram-se praticamente indissociáveis.
Ao lado dos Spiders from Mars - sua banda de apoio neste período - ele ainda lançaria o igualmente fundamental "Alladin Sane" e o álbum de covers "Pin Ups" (esse já sem o baterista Mick Woodmansey).
Em 3 de julho de 1973, Bowie anunciou em pleno palco que aquele seria o último show de sua vida (o espetáculo foi filmado e virou o filme "Ziggy Stardust and the Spiders from Mars") para desespero de seus fãs.
Claro que no ano seguinte ele já estava de volta, agora com "Diamond Dogs", um álbum sombrio inspirado em "1984" de George Orwell que rendeu uma acidentada turnê que antecedeu muitos dos mega-espetáculos que veríamos nos anos seguintes.
Um ano depois ele já estava em outra - daí o apelido "camaleão" - agora vidrado na soul music e no nascente movimento disco. Dessa paixão nasceu o álbum "Young Americans", que trouxe seu primeiro grande hit single nos EUA, "Fame" - uma parceria com John Lennon.
Bowie está em seu auge artístico. Seus discos vendem bem, ele tem o respeito dos críticos e também de toda uma nova geração de músicos.
Já no lado pessoal sua vida estava em trapos. Com uma obsessão por magia negra e ocultismo, extremamente magro - dizem que ele se alimentava apenas de leite - e com um vício incontrolável por cocaína Bowie sente que precisa deixar os EUA imediatamente antes que o pior aconteça.
É dessa fase o álbum "Station To Station", outro álbum de cunho experimental e que influenciaria muita gente no futuro.
Com Iggy Pop - outro que estava em péssimo estado - ele ruma para Berlim e dá início a outra época luminosa da música pop. Em 1977 ele lança dois discos que também se tornam clássicos - "Low" e "Heroes", ambos contando com a fundamental colaboração de Brian Eno - e ajuda Iggy a gravar também seus dois grandes discos solo - "The Idiot" e "Lust For Life".
"Low" e "Heroes" são álbuns difíceis, ainda que tenham dois grandes hits, respectivamente "Sound And Vision" e a faixa-título respectivamente- muito influenciados pela música eletrônica, especialmente a praticada pelos alemães do Kraftwerk.
A "trilogia de Berlim" seria fechada em 1979 com "Lodger", esse gravado na Suíça e Nova York, um álbum menos hermético e que traz experimentos com a música árabe e africana e um uso pioneiro da "world music" em um contexto pop/rock.
O astro entraria nos anos 80 com outro clássicos - para muitos sua última obra-prima indiscutível até os dois álbuns mais recentes - "Scary Monsters (And Super Creeps)", que marca o final do seu contrato com a RCA.
Em 1983, já em nova gravadora, a EMI, ele lança "Let's Dance", disco que assustou críticos e fãs mais antigos, com seu som bem mais dançante e comercial - cortesia do produtor Nile Rodgers.
Apesar dessas ressalvas, o álbum faz do artista uma mega-estrela, depois que ele explode nos EUA - e por consequência no resto do planeta, Brasil incluso.
O restante dos anos 80 são complicados, com discos irregulares e um artista que parece perdido. A impressão que se tem é a de que ele nunca mais irá nos surpreender.
Em 1989 ele decide montar uma banda de rock 'n' roll barulhento- a Tin Machine - onde ele tenta passar como apenas um de seus integrantes. Infelizmente, os dois discos lançados por eles, foram massacrados pela crítica e sumiram de vista.
Novamente pioneiro, ele foi o primeiro grande astro a entender como os CDs iriam causar uma revolução sem precedentes na indústria. Em 1990 ele dá início a um ambicioso projeto de relançamento de seus primeiros discos. Todos eles ganham remasterização e, vários deles, ganham faixas extras.
O músico também sai em uma turnê onde toca apenas seus grandes sucessos. Foi com a "Sound And Vision Tour" que ele finalmente veio ao Brasil em 1990. Ele também seria um dos primeiros astros a abraçar a internet e todas as possibilidades oferecidas pela rede.
Durante a década ele também lança trabalhos mais experimentais como "Outside" (1995 - onde ele voltou a trabalhar com Eno) ou "Earthling" (influenciado pelo Drum 'n' Bass, de 1997) e em 1999 fez "Hours", em que, de certa forma, fazia as pazes com seu passado.
O novo século foi marcado por outros dois ótimos discos "Heathen" e "Reality" (2002 e 2003) respectivamente e depois um período de silêncio. Em 25 de junho de 2004 ele fez o seu último show e praticamente sumiu de vista. Depois soube-se que ele abandonou o palco sentindo dores no peito e precisou fazer uma cirurgia cardíaca.
Nos anos seguintes ele pouco apareceu. Tirando algumas participações especiais, ou pontas em filmes, o astro se retraiu, dando início a uma série de boatos de que estaria seriamente doente.
Daí a surpresa generalizada quando em 8 de janeiro de 2013, dia de seu aniversário, "Where Are We Now?" foi lançada de surpresa e um novo disco, o ótimo "The Next Day" anunciado para breve.
Apesar do retorno, o cantor resolveu manter o mistério recusando-se a dar entrevistas, mas autorizando o produtor Tony Visconti e seus músicos a falarem com os jornalistas.
O anúncio de "Blackstar" no final do ano passado foi visto com animação pelos fãs. que não esperavam por mais um disco tão cedo.
Olhando agora, "Blackstar", também lançado em seu aniversário, de fato soa como uma despedida, com seus temas tristes em que a morte é um tema recorrente.
Se há dois dias, o trabalho foi visto como mais um excelente disco em uma coleção já repleta de clássicos, setenta e duas horas depois ele se torna ainda mais emocionante e assustador.
Agora fica claro que o trabalho foi mesmo pensado como uma despedida e que David Bowie o fez como seu derradeiro manifesto.
Bowie nos deixou neste domingo dia 10 de janeiro, mas a sua marca e seu espírito inovador e inquieto continuará ressoando em toda a música pop por décadas e décadas. Podem ter certeza disso.
A lista é enorme e vai da geração punk e pós punk da segunda metade dos anos 70, passa por Madonna, o rock e pop dos anos 80, grunge, Radiohead, Strokes, Lady Gaga, LCD Soundsystem, Arcade Fire e além.
Resumindo: é difícil encontrar um artista surgido depois de meados da década de 70 que não se declare influenciado por alguma, ou várias, de suas fases.
Bowie não apenas gravou ótimos discos - e são vários considerados entre os melhores álbuns de rock de todos os tempos - mas também se mostrou um ícone da moda e tinha a capacidade de antecipar tendências musicais, seja através de seus trabalhos, ou ao chamar a atenção para artistas novos ou pouco conhecidos.
Não fosse por ele, é bem provável que nomes como Velvet Underground, Stooges, Kraftwerk ou, mais recentemente, Arcade Fire estariam na obscuridade.
Ainda que o senso comum diga que a grande fase de Bowie vá do começo dos anos 70 ao início dos 80, sua obra posterior também está repleta de grandes momentos.
Mas é óbvio que a sua produção setentista é a que sempre será lembrada como uma das mais instigantes de todos os tempos. Nesse texto tentamos resumir um pouco da carreira desse artista fundamental.
David Bowie começou cedo. Desde 1964, com 17 anos, ele já estava entrando em bandas e tentando deixar a sua marca. mas o caminho até o sucesso foi longo. Apenas em 1969, com o single "Space Oddity" ele atingiu o sucesso no Reino Unido.
Ainda assim, por um tempo, parecia que ele estava fadado a se tornar um artista de um só sucesso. A maré para ele começa a mudar com "The Man Who Sold The World" de 1970, ainda que sua sonoridade mais calcada no hard rock tenha agradado mais nos EUA que em sua terra natal. O álbum também marca o início da parceria dele com o guitarrista Mick Ronson, que seria fundamental nos anos que seguiram.
A primeira obra-prima indiscutível do cantor foi "Hunky Dury" de 1971 - eleito recentemente o terceiro melhor disco de todos os tempos pelo NME e o 11° pela Uncut. Aqui ele começa a mostrar todo seu alcance, seja nas faixas mais pesadas influenciadas pelo Velvet Underground como "Queen Bitch", em baladas estelares ("Life On Mars?") ou em sues momentos mais experimentais - o caso de "The Bewlay Brothers". O trabalho também traz aquela que, anos depois, seria enxergada como a carta de intenções do artista: "Changes" ("Mudanças") do imortal verso "Vire-se e encare o estranho".
O sucesso no reino Unido chegaria de forma avassaladora em 1972 com "Ziggy Stardust", o álbum conceitual sobre o extraterrestre que chega ao planeta cinco anos antes do fim do mundo.
Perfeito do início ao fim, o álbum deu início a "Bowiemania" e representa o ápice do glam rock, o movimento que renovou o rock ao trazer conceitos como a androginia para o centro da música.
Nos anos seguinte foi Bowie e seu personagem Ziggy, tornaram-se praticamente indissociáveis.
Ao lado dos Spiders from Mars - sua banda de apoio neste período - ele ainda lançaria o igualmente fundamental "Alladin Sane" e o álbum de covers "Pin Ups" (esse já sem o baterista Mick Woodmansey).
Em 3 de julho de 1973, Bowie anunciou em pleno palco que aquele seria o último show de sua vida (o espetáculo foi filmado e virou o filme "Ziggy Stardust and the Spiders from Mars") para desespero de seus fãs.
Claro que no ano seguinte ele já estava de volta, agora com "Diamond Dogs", um álbum sombrio inspirado em "1984" de George Orwell que rendeu uma acidentada turnê que antecedeu muitos dos mega-espetáculos que veríamos nos anos seguintes.
Um ano depois ele já estava em outra - daí o apelido "camaleão" - agora vidrado na soul music e no nascente movimento disco. Dessa paixão nasceu o álbum "Young Americans", que trouxe seu primeiro grande hit single nos EUA, "Fame" - uma parceria com John Lennon.
Bowie está em seu auge artístico. Seus discos vendem bem, ele tem o respeito dos críticos e também de toda uma nova geração de músicos.
Já no lado pessoal sua vida estava em trapos. Com uma obsessão por magia negra e ocultismo, extremamente magro - dizem que ele se alimentava apenas de leite - e com um vício incontrolável por cocaína Bowie sente que precisa deixar os EUA imediatamente antes que o pior aconteça.
É dessa fase o álbum "Station To Station", outro álbum de cunho experimental e que influenciaria muita gente no futuro.
Com Iggy Pop - outro que estava em péssimo estado - ele ruma para Berlim e dá início a outra época luminosa da música pop. Em 1977 ele lança dois discos que também se tornam clássicos - "Low" e "Heroes", ambos contando com a fundamental colaboração de Brian Eno - e ajuda Iggy a gravar também seus dois grandes discos solo - "The Idiot" e "Lust For Life".
"Low" e "Heroes" são álbuns difíceis, ainda que tenham dois grandes hits, respectivamente "Sound And Vision" e a faixa-título respectivamente- muito influenciados pela música eletrônica, especialmente a praticada pelos alemães do Kraftwerk.
A "trilogia de Berlim" seria fechada em 1979 com "Lodger", esse gravado na Suíça e Nova York, um álbum menos hermético e que traz experimentos com a música árabe e africana e um uso pioneiro da "world music" em um contexto pop/rock.
O astro entraria nos anos 80 com outro clássicos - para muitos sua última obra-prima indiscutível até os dois álbuns mais recentes - "Scary Monsters (And Super Creeps)", que marca o final do seu contrato com a RCA.
Em 1983, já em nova gravadora, a EMI, ele lança "Let's Dance", disco que assustou críticos e fãs mais antigos, com seu som bem mais dançante e comercial - cortesia do produtor Nile Rodgers.
Apesar dessas ressalvas, o álbum faz do artista uma mega-estrela, depois que ele explode nos EUA - e por consequência no resto do planeta, Brasil incluso.
O restante dos anos 80 são complicados, com discos irregulares e um artista que parece perdido. A impressão que se tem é a de que ele nunca mais irá nos surpreender.
Em 1989 ele decide montar uma banda de rock 'n' roll barulhento- a Tin Machine - onde ele tenta passar como apenas um de seus integrantes. Infelizmente, os dois discos lançados por eles, foram massacrados pela crítica e sumiram de vista.
Novamente pioneiro, ele foi o primeiro grande astro a entender como os CDs iriam causar uma revolução sem precedentes na indústria. Em 1990 ele dá início a um ambicioso projeto de relançamento de seus primeiros discos. Todos eles ganham remasterização e, vários deles, ganham faixas extras.
O músico também sai em uma turnê onde toca apenas seus grandes sucessos. Foi com a "Sound And Vision Tour" que ele finalmente veio ao Brasil em 1990. Ele também seria um dos primeiros astros a abraçar a internet e todas as possibilidades oferecidas pela rede.
Durante a década ele também lança trabalhos mais experimentais como "Outside" (1995 - onde ele voltou a trabalhar com Eno) ou "Earthling" (influenciado pelo Drum 'n' Bass, de 1997) e em 1999 fez "Hours", em que, de certa forma, fazia as pazes com seu passado.
O novo século foi marcado por outros dois ótimos discos "Heathen" e "Reality" (2002 e 2003) respectivamente e depois um período de silêncio. Em 25 de junho de 2004 ele fez o seu último show e praticamente sumiu de vista. Depois soube-se que ele abandonou o palco sentindo dores no peito e precisou fazer uma cirurgia cardíaca.
Nos anos seguintes ele pouco apareceu. Tirando algumas participações especiais, ou pontas em filmes, o astro se retraiu, dando início a uma série de boatos de que estaria seriamente doente.
Daí a surpresa generalizada quando em 8 de janeiro de 2013, dia de seu aniversário, "Where Are We Now?" foi lançada de surpresa e um novo disco, o ótimo "The Next Day" anunciado para breve.
Apesar do retorno, o cantor resolveu manter o mistério recusando-se a dar entrevistas, mas autorizando o produtor Tony Visconti e seus músicos a falarem com os jornalistas.
O anúncio de "Blackstar" no final do ano passado foi visto com animação pelos fãs. que não esperavam por mais um disco tão cedo.
Olhando agora, "Blackstar", também lançado em seu aniversário, de fato soa como uma despedida, com seus temas tristes em que a morte é um tema recorrente.
Se há dois dias, o trabalho foi visto como mais um excelente disco em uma coleção já repleta de clássicos, setenta e duas horas depois ele se torna ainda mais emocionante e assustador.
Agora fica claro que o trabalho foi mesmo pensado como uma despedida e que David Bowie o fez como seu derradeiro manifesto.
Bowie nos deixou neste domingo dia 10 de janeiro, mas a sua marca e seu espírito inovador e inquieto continuará ressoando em toda a música pop por décadas e décadas. Podem ter certeza disso.