A figura da mãe, e da maternidade, já foi vista sob diversas óticas na história da música. Há homenagens, desabafos, canções de saudade e as feitas por artistas que se tornaram mães e quiseram celebrar esse momento único em suas vidas e até as mais críticas e bem-humoradas. Nesse especial de dia das mães, selecionamos 11 músicas que mostram algumas dessas facetas.

"You'll Be In My Heart" - Phil Collins

A figura da mãe é muito importante na mitologia Disney, pelo menos nos seus longas metragens. Nos anos 90, o estúdio passou por uma grande revitalização lançando uma sequência de filmes que, hoje, já são vistos como clássicos da mesma forma que as primeiras animações do estúdio.

A versão de "Tarzan" saiu em 1999 e teve suas canções escritas por Phil Collins. Essa emotiva balada, cantada do ponto de vista de uma mãe para a sua criança, no caso a gorila que "adota" o bebê humano, fez um enorme sucesso e garantiu um Oscar ao britânico.

É também irônico que esta música, de grande ternura e sensibilidade, tenha vindo das mesmas mãos que, no Genesis, criou clássicos da instabilidade familiar como "Mama" e "No Son Of Mine".




"Let It Be" e "Mother" - The Beatles e John Lennon

É interessante ver que em 1970 tanto Paul McCartney quanto John Lennon lançaram músicas falando sobre as suas mães, que morreram antes deles fazerem sucesso, de maneira bem distinta.

"Let It Be" se tornou um clássico esperançoso, uma espécie de música gospel secular, e foi escrita depois que Paul sonhou com sua mãe. Era ela a "Mother Mary" da letra, que lhe disse palavras de conforto em um momento de grande instabilidade emociona, quando os Beatles atravessavam a sua fase de maior distanciamento que culminaria na separação do quarteto..

A canção de Lennon, é bem diferente, e mais desesperadora. A faixa saiu no primeiro álbum solo dele praticamente junto com o anúncio da dissolução da banda.

Nesta época, o músico estava participando de uma dolorosa terapia psicológica baseada na ideia de que era preciso se liberar de todos os seus traumas através do choro e de gritos, a chamada "Teoria do Grito Primal".

"Mother" abria o álbum "Plastic Ono Band" de maneira intensa, com John falando "mãe, você me teve, mas eu nunca tive você". No final da faixa ele está aos berros pedindo para que sua mãe não parta e seu pai volte para casa.

John foi efetivamente criado por sua Tia Mimi, e só via sua mãe Julia de maneira esporádica. Justamente quando eles estavam se aproximando, em 1958, no momento em John tinha 18 anos, ela morreu atropelada. Dez anos depois ele a homenageou com a faixa homônima presente no clássico "Álbum Branco" dos Beatles.





"Lady Laura" - Roberto Carlos e "Filho Único" - Erasmo Carlos

No final da década de 70, Roberto Carlos homenageou seu pai, em "Meu Querido Meu Velho Meu Amigo" de 1979, e sua mãe, Laura Moreira Braga, nesta canção que se tornou das mais emblemáticas do cantor. A faixa traz o artista relembrando a infância e ansiando para ter de volta aqueles momentos únicos de união entre mãe filho.

O "meu amigo" Erasmo Carlos também abordou a questão mãe/filho, mas de uma maneira mais bem-humorada brincando com a figura da mãe superprotetora em "Filho Único". A canção, que não é autobiográfica convém dizer, traz o narrador lembrando à sua progenitora que ele não é mais um menino e que chegou a hora dele seguir a vida por conta própria.





"Mãe (Part. Dona Jacira e Anna Tréa)" - Emicida e "Dear Mama"- Tupac Shakur

Não é segredo que muitos artistas de estilos identificados com as periferias das grandes metrópoles, caso do reggae ou do hip-hop, são criados em um ambiente predominantemente matriarcal, com avós e mães muitas vezes assumindo a missão de educar, e prover o sustento das crianças em famílias onde os pais são ausentes.

Tome-se o exemplo de Emicida, cujo pai, alcóolatra, morreu quando ele tinha apenas seis anos, ou o saudoso Tupac Shakur (1971 - 1996) que foi criado principalmente por sua mãe, a ativista, e integrante dos Panteras Negras, Afeni Shakur.

Nas canções abaixo os dois rappers agradecem, cada um ao seu modo, tudo que elas fizeram por eles, e também se desculpam por todas as dores de cabeça causadas no passado.





"Sweetest Devotion" - Adele

É desnecessário dizer como a maternidade muda a vida de uma mulher e a sua maneira de encarar o mundo. Não a toa, a maioria das compositoras fazem músicas para celebrar seus filhos recém-chegados e, também, falar sobre toda a magia, e mistério, dúvidas claro, que envolvem a criação de um bebê. Esta bela canção de Adele, feita em tributo ao seu filho Angelo James, nascido em 2012 (a música saiu três anos depois) é uma intensa declaração de amor.



"Você, Você" - Chico Buarque

Essa canção é da safra relativamente mais recente de Chico, e está no álbum "As Cidades" de 1998. Pouco conhecida, ela foi inspirada em uma situação que todos provavelmente já sentiram: a da espera, quase insuportável, pela volta da mãe, que saiu para trabalhar, ou para um compromisso qualquer. A inspiração veio da forte ligação em que ele via entre seu neto e a mãe, e de quão triste ele ficava quando ela o deixava na creche.

Como grande letrista que sempre foi, o compositor adiciona uma camada de mistério no texto, que permite várias leituras. É curioso notar que o seu verso final, "que horas você volta?", seja bastante semelhante ao do filme de Ana Muylaert, "Que Horas Ela Volta" (2016), que tem como tema central a criança que tem na babá uma segunda mãe, e lhe faz sempre essa pergunta. No vídeo abaixo, o próprio autor fala de sua concepção antes de cantá-la.



"Meu Aniversário" e "Conta" - Nando Reis

Se o segundo domingo de maio é tradicionalmente um dia de festejos, ele também é uma data de reflexão, muitas vezes simultaneamente, para aqueles que já perderam as suas mães. Nando Reis foi um autor que traduziu bem essa sensação de vazio e impotência em pelo menos duas grandes canções, ambas lançadas com alguns anos de distanciamento tanto em relação ao fato - a mãe dele, Cecília Leonel, faleceu em 1989, quando ele estava com 26 anos e os Titãs no auge da carreira, quanto entre si.

"Meu Aniversário" entrou no primeiro disco do cantor, "12 de Janeiro" de 1995, quando ele ainda estava na banda. Já "Conta" está no disco "Drês", de 2009. A poesia e força das duas ficam mais evidentes nos vídeos abaixo com as músicas cantadas por Nando acompanhado apenas de seu violão.