Era noite e eu estava no meu quarto, este era grande de paredes brancas. Não me lembro o porquê do quarto está tão vazio. Acho que as flores eram minhas únicas companheiras no momento. Rosas muitas rosas pelo quarto. Como eu amava aquela flor. Não conseguira dormi mesmo estando exausto. Estava bebendo um Johnnie Walker com gelo, para compensar o frio que fazia, enquanto acompanhava atentamente a chuva que insistia em bater na janela. Vaguei, pela imensidão amena da casa imensa, que a solidão só fazia aumentar, a dimensão das paredes brancas. Voltei para o quarto, joguei-me na cama para tentar esquecer aquele grande dia. As horas eram intermináveis e os dias infelizes. O tempo às vezes conspira contra a gente. Quando rolava pela cama foi quando a vi. Julia estava parada na porta, olhando para mim e minha imensa cama de casal sendo que só eu dormi lá. Julia estava linda, vestia uma camisola rosa (na verdade era uma camisa que mas parecia um vestido nela), seus cabelos loiros acastanhados meios despenteados só faziam jus a sua cara de sono e eu pude observa-a esfregar os olhos levemente com a mão. Recordo-me que ela levava um ursinho de pelúcia nas pontas dos dedos da mão direita. Foi então que sentei na cama virado para ela e disse: - O que foi minha pequena? Ela fez aquela cara de sono , coçou novamente os olhos castanhos vagarosamente antes de dizer: - O Teddy está com medo de dormi sozinho comigo. Achei engraçado ela botar a culpa do seu medo de dormi sozinha no Teddy. - Minha pequena vem deitar aqui. Não vou deixar nada de ruim acontecer com vocês dois. Ela então veio que correndo e se atirou na cama, escondendo seu pequeno corpo nas colchas. Fiquei-lhe fazendo carinho na cabeça e nas suas costas, enquanto ela falava coisas simples, do seu cotidiano juvenil, mas seu vigor em cada palavra fazia as coisas mais simples virarem odisséias sem fim. Falou até pegar no sono, abraçada em mim não sei se foi por causa do frio, ou do medo, ou da solidão que naquela noite não dava trégua até quando Julia veio adentrar o quarto. Foi quando reparei que ela havia deixado cair seu ursinho no chão. Até pensei em me levantar para apanhá-lo mas fiquei com medo de acorda a pequena Julia. Vendo seu ursinho de pelúcia o símbolo da sua inocente infância, chorei. Choro de felicidade por recordar-me da minha juventude, meus pais, meus amigos, meus amores, meu sonho: minha Julia. Então acordei. Minhas paredes brancas nunca antes foram tão coloridas.