Preta Rara
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Graças ao Arauto

Preta Rara

Audácia


Da vida o que se leva é o aprendizado
E o que se deixa e a semente forte do legado
Se alguém pra muitos
Não é pra poucos
Dizer a verdade
Frutos da minha cor que já colhi me trás felicidades
Na cidade
As margens da sociedade
Sou sombra na estrela que brilhou no opacidade
Mas pra quem, quer ser alguém e ter razão também
Por o chão na selva todo dia dizer amém

Onde estava a vergonha na cara do contratante
Que escolheu cabelo liso e rejeitou os meus turbantes
Fui intitulada mão de obra barata
Não me enverguei graças ao ensinamento de Afrika Bambataa

Sem rosas do vento ou bussola achei meu norte
Ancestralidade me guiou para a trilha do forte
Navios negreiros, gemidos, tormentos, eu ouço
E que se foram com o tempo

A chibata só foi trocada por uma prancheta
E esses grilhões a caneta não arrebenta
Mas não cai ser carne fraca nem pensar
Me levantei no anonimato pra poder reivindicar
Contrariei as estatísticas de fato
Mulher de orgulho fina, Diva que não cai do salto
Tô no palco sou professora
Graças ao Arauto!
Que sempre foi meu alicerce carregando o fardo
De Brandina a Luiza Mahin, a guerra não para
Mas uma guerreira na trincheira
Preta-Rara

Graças ao Arauto sobrevivi
Graças ao Arauto sobrevivi

Sem ap de luxo ostentado e sustentado
Por algum delito planejado e concretizado
Algo muito justo está escrito em minha alma
Conquistar o fruto com suor também manter a calma

Indignação que me causa na vagabundagem
Trairagem explorada pela malandragem
Fazes... eternas de felicidade falsa
Tapando os ouvidos e os olhos dessa grande massa

Pela música no grito sou guerreira que não para
Não me vendo por promessas falsas de canalhas
Rala peito verme aqui é força e trabalho
Carta no baralho não tô fora e não falho

Pra otário que se acha dono da razão
Sem querer ser a melhor ou pior, pé no chão
Chão da minha terra tinha que me dar orgulho
Mas infelizmente a maioria dorme no barulho

Mais de 500 anos de enganação
Sempre a alta classe navegando no cifrão
Do lado de cá o que nos resta são as sobras
Obra super faturada, renda desvalorizada

O que vem de mim que sirva de inspiração
Pra uma geração que é esperança e perseverança
Dança dos famosos pra prender o povo à tela
Congelando as mentes pra não ter um povo inteligente

Desde minha infância indaguei essa programação
Manipuladora disfarçada que é opressora
Sempre exaltando os senhores de estados
Que vivem à custa de um povo ainda escravizado

Claro que não para luta árdua de fé
Tudo pela autoestima mantendo a rima
Minas e manos, tudo nosso mantenho meu plano
Na linha de frente mas pros fracos eu não passo pano

Compositor: Joyce Fernandes

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