Do Primeiro Primitivo
Após um período de 5 anos morando em Minas Gerais, em 1995 Jotaerre volta ao Rio de Janeiro com bagagem e anseio suficiente para formar sua banda de rock autoral. Em sua breve chegada conheceu Roberto Minício, apelidado de Ceybo, uma amizade que provocou o desbravamento de suas novas composições. Pouco tempo depois disso teríamos assim a primeira formação um tanto quanto inesperada, com o nosso Jotaerre na bateria ao lado de seu irmão Dyore nos vocais, além de Ceybo na guitarra e Francis no contrabaixo.
Nas palavras de Jotaerre: "Ceybo tinha uma ideia fixa para o nome da banda, "Metal Fist" ("Punhos de Metal"), isso até virou título de uma música que fizemos. Mas não éramos uma banda de metal. Esboçamos: "O Fim da Picada", "O Fim do Fim", "Triturados e Afins". Foi quando eu falei "Primitivos", o silêncio pairou no ar, não tinha mais o que discutir. Descobrimos que éramos "Primitivos" desde o começo e não sabíamos."
Assim como o certo ciclo da vida, as prioridades apareceram na vida de cada um dos integrantes os fazendo seguir caminhos diversos, restando apenas Jotaerre, com suas primeiras composições amadoramente armazenadas em uma fita demo.
Do Segundo Primitivo
Nesse caminho, Jotaerre encontrou seu primo Fábio e Maurício, que era seu amigo de infância. Ambos já tocavam juntos numa banda chamada Artigo 12. Em uma noite muito longa, veio novamente o vislumbre de voltar ao rock, dessa vez em um trio, com Jotaerre se deslocando para guitarra e para os vocais, com Fábio segurando o contrabaixo e Maurício em seu trono na bateria, e num lampejo o ensaio já estava marcado.
Por conta de limitações artísticas e talvez técnicas, não conseguiam executar as demos que estavam na fita que Jotaerre carregava consigo. A solução para isso adentrou naturalmente aos ares da banda, ao invés de tocar o que já existia foi dado o foco a tocar o que ainda havia por vir. Dessa forma, a sonoridade contemplou novas composições como "A Usina", e também as mais antigas.
É aqui também que temos Maurício trazendo seus outros talentos e com sua aptidão e originalidade, somado aos alvitres de Jotaerre e Fábio, rascunha e lapida o que seriam as primeiras artes visuais concretas e identitárias do grupo.
Do Terceiro Primitivo
Nesse momento a banda já rodava pelo município, quando não havia ensaio havia show e vice versa. Porém, seguindo mais uma vez o ciclo indomável dos caminhos, Fábio optou por deixar a banda ao entrar para Igreja, em meio inclusive a uma série de shows e apresentações em que a banda emplacava. Passamos novamente por reformulações, podendo destacar Luiz do Rock (ex vocalista da "Artigo 12") que passou pelas guitarras da banda e posteriormente fundou Os Gralhas.
Após um breve hiato, Rodrigo (ex baixista da banda "Cabeça Feita") chega até o contrabaixo da Primitivos se adequando lindamente e somando muito a banda. O hiato chega ao seu fim e já estavam novamente barulhando em tudo que é canto da cidade.
Essa chegada do Rodrigo marca o grupo com muito mais identidade, peso e influência reggae. A consistência das composições cresce exponencialmente com a sinergia dos integrantes. O som era agora o que de fato viria a ser a digital primitiva dos Primitivos.
A Queda Do Segundo
O ciclo das nossas desventuras defere mais um golpe aos Primitivos, dessa vez um golpe duro e implacável. Nas palavras de Jotaerre: "(...) quando parecia que ia ser assim pra sempre veio um câncer e tocou meu irmãozinho Maurício, que tocou bateria enquanto teve forças pra levantar as baquetas, depois partimos pro formato acústico, pra que ele fizesse menos esforço. E depois nem isso foi possível. Maurício se foi."
Após o susto e o abalo com o infortúnio, aos poucos o tempo foi curando as feridas, e mesmo com elas ainda abertas fez-se florescer arte no coração de nossos primitivos, fazendo Rodrigo voltar as suas raízes do reggae para continuar vibrando e em outros projetos. Assim, restou novamente apenas Jotaerre, dessa vez por culpa das intemperes implacáveis do tempo, sem suas demos agarradas magneticamente na fita que costumava dormir em seu bolso.
As Demos Inacabadas
A respeito das canções perdidas na fita k7, Jotaerre diz: "As letras sempre vinham carregadas do que me era pessoal, mesclava isso com o nosso cotidiano e com a nossa realidade. Sempre foi relativamente fácil pra mim captar o que a banda tinha em comum pra fazer as letras das músicas. (...) O punk sempre me atraiu, era o que eu sabia fazer e era a trilha sonora perfeita pra eu dizer o que o que sentia também. Então foi inevitável seguir por esse caminho. Éramos uma banda punk autoral"
Do Leão
Nas palavras de Jotaerre: "Meu rock acabou, meu último acorde soou frio e sem sentido, assim se findaria a história dos Primitivos. Não sei ao certo quanto tempo se passou até que a vontade persistente de registrar o repertório autoral dos Primitivos me importunou, eu queria gravar as músicas (...)".
Num respiro de resistência, Jotaerre vai até as redes sociais buscar músicos para uma nova reformulação, afinal de contas as mensagens que já morrerá em sua fita k7 perdida, não poderia morrer dentro do seu coração. E no mundo digital, por meio de trabalhos audiovisuais publicados por Patrick como frontman da banda Enérgika em suas redes sociais, o primitivo finalmente encontra o leão.
Jotaerre e Patrick começam a fazer floreios de ideias do que poderia vir a existir de toda essa história até agora. As mentes criativas mais uma vez somam poderio inesperado e inimaginável, pois despontava assim a realidade de finalmente gravar de maneira independente, a nível profissional, as composições que um dia foram praça para muitos shows e ouvidos.
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