Cabelo da Desgraça
É daquele jeito, mantenho o respeito,
O cabelo é crespo, o corpo é preto.
Ouviu direito, então por que passa
Alisante, escova, chapa?
Se envolver nessa farsa renegando a nossa raça.
Só porque inventaram que é duro?
A verdade eu te juro,
Esse é o passado, o presente o futuro de quem tem o
corpo escuro.
Mas ainda acham normal.
Passar alisante, ficar legal.
Prefiro o meu crespo, natural, trançado, enrolado ou
black pow.
Quem é nunca se humilha.
Cabelo crespo, o olho brilha.
Só em saber e ver minha filha com uma boneca preta que
nem a família.
Quem alisa parece que esquece que o crespo sempre
cresce.
É isso que merece saber que a raça prevalece.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Puxa, estica, assim não vai dar.
Temos que cortar o cabelo para poder trabalhar.
- Lá vai ele passando, que cabelo da desgraça!
- Corta essa porra, rapaz, deixa de palhaçada.
- Ham! Ham! Deus é mais já se olhou no espelho?
- Você até é bonitinho, mas o que mata é o seu cabelo.
- Há! Há! Há! Há! tá engraçado pra caralho.
- Não chega perto de mim que pra sair vai dar
trabalho.
Se não me esquivar acaba furando o meu olho.
- Em seu cabelo tem insetos carrapatos e piolhos.
Isso é coisa de preto, de ladrão, de maconheiro.
Que anda todo largado e diz que temos pré-conceito.
- Olhe-se num espelho!
- Não vejo nada.
- Veja o seu reflexo que é bonito e inteligente.
Saquei vejo auto-estima um mano sem complexos.
Um preto assumido, fazendo o seu protesto.
Só quem é louco se identifica!
Pode vir um, dois, três.
Tô chamando pra briga.
Ê ai? Qual que é?
Então, vai encarar?
Pode vir, chegue mais perto, mas, chegue pra soltar.
Quer dizer, se puder, se não eu arregaço.
O único jeito de me derrotar é fazer melhor o que eu
faço.
Quer dominar alguém, destrua sua cultura.
Se arme de artifício e construa sua estrutura.
Demonstre que comanda e que merece obediência.
Se não tiver resultados, meu irmão, paciência!
Arma psicológica que ofereço para ti.
Se errou. volta pro inicio pede pra repetir
Desistir não vamos, não faz parte do plano.
Foram séculos e séculos estudando e observando.
(...) Esta chegando à hora e hora de partir (...)
Vamos bater de frente estamos aqui pra competir.
Minha cultura é baseada em quatro elementos.
Cabeça é apoio junte-a aos demais membros.
Pôxa me desculpa se esta confundindo a sua.
O que me fortalece é a auto-estima da revolução das
ruas.
Que nem os black powers, cinco mil soldados.
Ou melhor, panteras negras, injuriados revoltados.
Vou até trazer pra nós, convocar meu porta voz,
Seu Zumbi dos Palmares e os irmãos Nagôs.
Quem assumiu a cabeça? em Palmares 30 mil
Foram tranças na raiz e o resultado camuflado.
Todo mundo igual, pelo menos na aparência.
O ideal é um único e a liberdade e a sentença.
E eu acho que é isso que faz repercutir.
Meu cabelo solto ou trançado vai ser crespo, vai ser
crespo até cair, até cair.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou e sou filho da mãe África/
sinto falta do meu blackao, do cabelo da desgraça.
Agora que estou aqui com o meu já trançadinho,
Cabelo duro de responsa pronto para o desafio.
Junto aos meus parceiros para a guerra no empenho,
Enfrentar todo o racista do território brasileiro.
Armados da mente aos dentes, guerreiros afro
descendentes.
Televisão o primeiro alvo o segundo alvo o presidente.
Na seqüência dos nossos ataques vem às igrejas
evangélicas,
Usufruindo o dizimo e prometendo a vida eterna.
Jogando o preto contra o preto é você sabe como é:
Pastores são os próprios demônios falando mal do
candomblé.
A guerra esta só no começo, o racismo é o pior dos
vírus.
Dentro de algumas músicas que merecem o extermínio.
(...) nega do cabelo duro que não gosta de pentear,
quando passa na Baixa doTtubo o negão começa a gritar:
Escova, escova, escova (...).
Espere ai, não faça isso!
Manda tomar no cú, o Luis Caldas e o Psirico.
Invista nas suas tranças, nos tratamentos naturais.
Valorize a negritude herança de nossos ancestrais.
Colete á prova de balas, racistas: estamos usando.
Curando e chamando pra guerra todas as minas e todos
os manos.
Vamos enfrentar agora a educação racista,
Não dê boneca branca para sua filha.
Não deixe as crianças se viciarem em televisão.
Porque o bicho mal e feio que aparece sempre é o negão
Eles vão querer ser brancos, não vão se achar bonitos.
Porque não são vistos na propaganda da Sorriso.
Assim nóis prosseguimos na nossa luta muito árdua.
Cidadania e consciência negra são as nossas armas.
Da matriarca nação do mundo surgiu a matemática,
Geometria, medicina e escrita lá também as praticava.
Se você insistir em dizer que o preto é burro,
Vai ter que alguém me segurar se não irei te dar um
murro.
Sofremos a exploração daqueles branquelos imundos,
Que pintaram em um quadro um branco com o cabelo liso.
Colocaram olhos azuis oh, Jesus Cristo!
Branquelo, azedo, daquele jeito? Não acredito.
Isso muito importa agora irei pintar o meu quadro.
Jesus Cristo para mim é Zumbi reencarnado.
A nossa imagem e semelhança com o nariz amassado,
Cabelo bom, crespo, dread, trançado ou ouriçado.
Agora estou empolgado, Zumbi parece comigo.
Nosso espelho está na África, somos negros lindos.
Temos a mais bela estética ouviu racista? Vê se pensa.
Esses são os nossos traços, foda-se o seu padrão de
beleza.
Reveja os seus conceitos seus adjetivos já são em vão
Quando nos chamam de macaco, de preto feio do beição,
Não sentimos vergonha isso aumenta a nossa
auto-estima.
Características resistentes ao tempo e ao clima.
Orgulhosos somos assim no toque de nossos lábios
carnudos.
Negros com negras fazem filhos negros formando o
exercito maior do mundo.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Sou blackão! Eu sou blackão! Cabelo da desgraça!
Cabelo da desgraça.
Compositores: Heider Santos Gonzaga, Joseilson Silva Oliveira E Roni Érico Castro Da Silva