Rodrigo Mattos e Praiano

Tordilho Negro

Rodrigo Mattos e Praiano


Correu notícia que um gaúcho
Lá da estância do Paredão
Tinha um cavalo tordilho negro
Foi mal domado, ficou redomão

Este gaúcho dono do pingo
Desafiava qualquer peão
Dava o tordilho negro de presente
Pra quem montasse sem cair no chão

Eu fui criado na lida de campo
Não acredito em assombração
Fui na estância topar o desafio
Correu boato na população

Foi num domingo, clareava o dia
Puxei o pingo e o povo reuniu
Joguei os trastes no lombo do taura
Murchou a orelha, teve um arrepio

Botei a ponta da bota no estribo
Alguns gaiatos por perto sorriu
Ainda disseram, comigo eram oito
Que pôs a perna, montou e caiu

Saltei no lombo e gritei pro povo
Este será o último desafio
Tordilho negro berrava na espora
Por vinte horas ninguém mais nos viu

Mais de uma légua o pingo corcoveou
Manchou de sangue a espora prateada
Anoiteceu, o povo pelo campo
Procurava eu morto pelas invernadas

Compraram velas, fizeram um caixão
A minha alma estava encomendada
A meia-noite mais de mil pessoas
Desistiu da busca desacorçoada

Dali a pouco ouviram um tropel
Olharam o campo, noite enluarada
Eu vinha vindo no tordilho negro
Feliz saboreando uma marcha troteada

Trancei as pernas na frente do povo
Deixei a rédea arrastar no capim
Lavado em suor o tordilho negro
Ficou pastando em roda de mim

Tinha uma prenda no meio do povo
Muito gaúcha, eu falei assim
Venha provar a marcha do tordilho
Faça um favor e monte de selim

Andou no pingo mais de meia hora
Deu-me uma rosa lá do seu jardim
Levei pra casa o meu tordilho negro
Mais uma história que chega ao fim

Compositor: Vitor Mateus Teixeira (Teixeirinha)
ECAD: Obra #27090 Fonograma #27777181

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