Um par de espora sangrenta Um mango de coro puro Um chapéu velho empoirado Uma faca do cabo escuro Um schmitt trinta e oito Um pala cheio de furo Uma guaiaca sofada No mesmo prego seguro Ao contemplar fico triste Seu dono já não existe Só a saudade persiste Daquele gaúcho puro
Meu pensamento vagueia Perdido no infinito Relembra o dono dos trastes Que fora seu manuscrito Quando domava um cavalo Era sempre favorito Quer no rodeio ou na doma Seu trabalho era bonito Nas tropeadas era um doutor Nas domas um domador Na cordeona um trovador E na laçada era um perito
Assim foi meu velho pai Como laço de rodilha Enquanto é novo se espicha Nos chifres de uma novilha Depois a morte golpeia Só fica os trastes da encilha Pendurados na parede Recordação pra família Ele já não é mais nada Num túmulo na beira da estrada Uma cruz velha rodeada de flores de maçanilha
Oigalê morte traiçoeira Que chega como um pialo Sessenta setenta anos Tira um homem do cavalo Arranca dos filhos e netos E atira dentro de um valo Parece um minuano chucro Que leva as folhas do talo Meu velho pai que saudade Do teu carinho e bondade Choro uma barbaridade Quando no teu nome eu falo
Compositor: Vitor Mateus Teixeira (Teixeirinha) ECAD: Obra #21169 Fonograma #5786211