Nasci num paradeiro que chamavam de Brasil No mês do carnaval de um já remoto ano dois mil Tô velho e deslembrei do seio que murchei Mas lembro das porradas sob as quais eu desmamei Ainda meninote, eu intuí o meu lugar O dente da ambição me acicatou a jugular Tomei um semancol e num piscar do sol De sub-aviãozinho virei dono do paiol Mas isso não bastou, pra mim era humilhante Examinar o espelho e achar um mero traficante Até que ouvi uma voz: Escuta, meu rapaz Me entrega teu destino, liberdade e tudo o mais Que eu faço teu futuro da maneira que te apraz? Porém, passaram anos de marasmo e ramerrão Baladas e chacinas, primavera e caveirão E tome pancadão e tome inferno astral Compadres no monturo, inimigos no jornal A década acabou e eu vi na minha frente Um comitê de gringos com seu líder sorridente E conheci a voz daquele chanceler Notei nas suas têmporas sinais de Lucifer Sujeito de palavra que auxilia quem malquer Que veio colocar minh? alma no penhor E em troca me alçaria à estatura de senhor, que amor!
Faria da favela um território above the law Um éden de heroína e de cheirinho-da-loló Pro homem do amanhã ter trip cidadã E o Rio de Janeiro ser melhor que Amsterdã E completou: my boy, I? m gonna give you what you miss Teu morro será quase como fosse outro país Um tipo de Hong Kong na aba de uma Ong De iogues-comissários de gravata e de sarongue E tu serás a lei! Oh, yes, I am the boss! Tornei a olhar o espelho e me flagrei tomando posse Dobrei os meus rivais, tramei reviravolta E agora o fisco existe é pra bancar a minha escolta E as forças desarmadas vão calar sua revolta O novo catecismo são meus ditos no pasquim Meu nome é traduzido em esperanto e mandarim Os gringos me mantêm, o lumpem me quer bem E a alta burguesia do meu pó virou refém Reservas, tribunais por sob as minhas patas Eis-me o mais orgânico dentre os aristocratas Tudo que eu sofri agora é meu troféu É meu salvo-conduto pra moldar o povaréu E ser glorificado antes de assar no beleléu No mês do carnaval nasci no ano dois mil E abri mais uma estrela em teu pendão com meu fuzil, Brasil!
Compositores: Eduardo Renno Kneip (Edu Kneip), Thiago Mattos dos Santos Amud (Thiago Amud) ECAD: Obra #19521977 Fonograma #3286551