Tijolo de Vera

Agulhas

Tijolo de Vera


Ciente das agulhas e como vão queimar
Em grupos ou avulsas elas não vão penetrar
Sozinho sob a escama, sem fuga ou proteção
Elas que me atravessem e atinjam esse chão (só que eu não!)

Entre a cama e as marcas, num estéril jardim
Eu broto entre pedras e anti-floresço assim
Nem lebre nem serpente, mas plena exclusão
Marco minha presença promovendo esta implosão

E para me cavar sorrisos,
Enfaixe-me o rosto, abra-me pro espanto, trate-me melhor.

Semeie suas crenças pra bem longe daqui
Minha religião é o Cristo torto de Dalí
Não vejo meu futuro no credo em batalhar
Enquanto elas perfuram, eu só sei não ter lugar

Desejo as belezas com asco e distância
Esgarço como posso o que já se construiu
O que move esse mundo são alegrias vis
Novos sorrisos velhos desbotando o seu verniz

Não venha me consolar.
Entendi o mundo no dia em que batizei um cachorro.

Nem alvo nem a flecha, nem amante nem suicida
Mas tolo irracional apaixonado pela vida
Mesmo prostrado aqui, entre o nada e o ser,
Minha razão escolhe se prender ao que é meu

Não vejo ao quê me integrar
Sou apenas rochas rasgando o seu melhor esforço

Ciente destas marcas e como vão queimar
Em grupos ou em crenças elas não vão penetrar
Nem lebre nem beleza, mas plena exclusão
Marco minha distância promovendo distorção

E quanto às minhas portas vis,
Me puseram na agulha, mas eu votei pela culatra.

Eu voltei, eu voltei, eu voltei, eu voltei, eu voltei,
É eu voltei, eu voltei, eu voltei, eu voltei, eu voltei!

Compositor: Rodrigo Fróes

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