Patrão: Meus senhores, vou lhes apresentar uma gente não sei de que lugar, uma coisa que imita a raça humana: eis aqui o trabalhador da cana.
Pois agora eles só querem falar em direitos e leis a registrar, imagine a confusão que dá!
Eu explico pra eles a tarde inteira esse tal de registro na carteira atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia-Fria:
Mas o traquejo da lei e do direito não degrada quem dele se apetece pois enquanto se nutre de respeito é o trabalhador que se enobrece.
Além disso quem chega-se à virtude e da lei se aproxima e se convém tá mostrando ao patrão solicitude por querer o que dele advém.
Desse modo o registro na carteira será nossa causa verdadeira.
Patrão: Mas que raça de gente muquirana me saiu esse trabalhador da cana! ignora que a lei e a justiça é da autoridade submissa e quando jegue se mete a gato mestre vai um pé pr'oeste e outro pro leste.
E assim no seu tema predileto o diabo já passa por dileto com esse tal de registro na carteira que atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia-Fria: Da justiça e da lei quem se aproxima tá louvando o que vem de lá de cima mas o luxo, o palácio, o desperdício é com Deus que se ajusta cada vício.
Sei que a nossa caneta é o machado mas poetas da popularidade com sonetos e versos caprichados já disseram por nós lá na cidade:
Que lutar por registro na carteira será nossa causa verdadeira.
Patrão: Não me traga cantores de protesto, eta raça de gente que eu detesto, só de ouvir este nome de política eu já fico agastado e com azia, sinto dores, a febre me arrepia tenho a tosse a maleita e a raquítica, pelo campo é o voto, a abertura, já não tem mais pureza a criatura
com esse tal de registro na carteira que atrapalha, é burrice, é besteira.
Bóia Fria: Pois pra mim você tá é misturando ter pureza com ser ignorante tá chamando a burrice de elegante a bobeira mental advogando.
Se eu estudo é lutando na peleja da maneira de a vida melhorar e com isso não vou abandonar a pureza da alma sertaneja.
Desse modo o registro na carteira será nossa causa verdadeira
Compositor: Antonio Jose Santana Martins (Tom Ze) ECAD: Obra #186422