Um roceiro mandou seu filhinho Com apenas seis anos de idade Estudar e formar-se doutor Nos colégios das grandes cidades Vinte anos depois regressava E ao ver onde o pai residia Confessou que sentia vergonha Mas o velho com diplomacia Apanhou uma enxada que estava Num canto encostada e pro filho dizia
Teu diploma e anel de doutor Que te deu foi o fio dessa enxada Se pra mim hoje aqui falta tudo Foi pra não te deixar faltar nada Esta enxada do seio da terra Trouxa a seiva pro teu alimento Os teus livros teu carro e teu luxo Foram ganhos com este instrumento Neste mundo de mil invenções Foi a enxada a primeira de todos os inventos
Foi a enxada no ermo das matas A primeira a trazer claridade E a plantar nos confins dos sertões As raízes de novas cidades Desbravou pantanais e desertos Pra cobrir com tapetes de flores Pôs caminho onde havia cerrado E o sertão fez ganhar novas cores Estes calos que pôs em meus dedos São como os mais belos anéis de doutores
Ao olhar para o rosto do filho Viu que estava com os olhos molhados E abraçando o velhinho chorando Disse apenas: Papai obrigado E levou a enxada consigo Pra guardar como nobre tesouro Pra depois em seus dias futuros Este exemplo ser mais duradouro Sobre a mesa de seu escritório Mandou colocar uma enxada de ouro
Compositores: Jose Fortuna (Ze Fortuna), Jair Sanches ECAD: Obra #575179 Fonograma #392461