Eu sou do tempo em que a infância se relegava aos brinquedos Na conversa dos adultos, guri não metia o dedo Obedecia aos mais velhos, fosse qual fosse o senão Não tinha vontade própria nem ganhava o chimarrão!
Quando fiquei mais taludo, olhava a cuia rodando! E o meu avô, velho sábio, ficava me observando Um dia esquentou a água, cevou a erva e, no embate Do seu olhar com meus olhos, serviu meu primeiro mate!
Agarrei aquela cuia como quem pega um troféu! Ergui meus olhos da terra pra me encantar com o céu! Eu devo àquele momento, muito do pouco que sou E, em cada mate, eu encontro os olhos do meu avô!
Ao passo lerdo das horas, fui, pouco a pouco, crescendo Enquanto os piás viram homens, há homens envelhecendo A vida é que nem o mate, que principia espumando Sacia as sedes da alma e, aos poucos, vai se lavando!
Um dia vi que seus olhos já não brilhavam tão forte Talvez enxergasse a sombra do manto negro da morte! No seu derradeiro leito, chegando para o arremate Eu vi que o velho gaúcho sentia falta de um mate!
Embora lhe proibissem, tomei pra mim esse encargo Se não havia esperança, pra que privá-lo do amargo? Jamais esqueço seus olhos, olhando os meus, sorrateiros Cevei o último mate pra quem me deu o primeiro!