Debaixo desse sombrero mora um missioneiro criado em galpão Eu só canto o que eu conheço e ninguém bota preço na minha canção Fui criado no rigor do campo E não carrego santo como devoção Meus garrão são rachado de geada Minha alma é bugra e barrada O mundo é minha estância e Deus é meu patrão
Uso uma bombacha de dois pano uma faca e um mango, lenço colorado A fivela da cinta torcida e o prazer da minha vida É andar sempre pilchado Sou humilde e não carrego luxo Mas eu sou gaúcho de alma imponente Companheiros não me levem a mal Se meu verso é grosseiro e bagual É que eu não sei fazer diferente
Me criei derrubando taquara plantando icoivara E batendo a manguaça Sou aluno da escola do mundo Mas não sou matungo pra me exprimentá Onde tive muié dançadera, cerveja e vanera Me agrada chegá Saio sempre que a farra apetece Fim de tarde ali quando escurece Só não tenho hora pra voltar
Quanto o coração missioneiro pulsar meu parceiro no peito do peão Nem que o modernismo não dê espaço Converso que faço eu não froxo o garrão Minha taura sua origem não nega Morre não se entrega sustenta no laço Peço a Deus manter viva a memória Porque o povo que não tem história Na primeira enchente se vai água abaixo
(E por cantar o que conheço me lembrei do meu amigo Paulo Garcia e seu canto missioneiro)
Compositor: Paulo da Silva Garcia (Paulo Garcia) ECAD: Obra #4733982 Fonograma #9962328