Eu tinha um companheiro por nome de Ferreirinha Nós lidava com a boiada desde nós rapazinho Fomos buscar um boi bravo no campo de Espraiadinho Era vinte e dois quilômetros da cidade de Pradinho
Nós chegamo no tal campo cada um seguiu prum lado Ferreirinha foi num potro redondão muito cismado Já era de tardezinha e eu já estava bem cansado Não encontrava o Ferreirinha e nem o tal boi arribado
Naqui lá 'vistei o potro que vinha vindo assustado Sem arreio e sem ninguém fui ver o que tinha se dado Encontrei o Ferreirinha numa restinga deitado Tinha caído do potro e andou pelo campo arrastado
Quando vi meu companheiro meu coração se desfez Apeei do meu cavalo com tamanha rapidez Chamava ele por nome chamei duas ou três vez E notei que estava morto pela sua palidez
Pra deixar meu companheiro é coisa que eu não fazia Deixar naquele deserto alguma onça comia Tava ali só eu e ele e Deus em nossa companhia Veio muitos pensamentos só um é que rosolvia
Pra levar meu companheiro vejam quanto eu padeci Amarrei ele pro peito e numa árvore suspendi Cheguei meu cavalo embaixo e na garupa desci E com o cabo do cabresto eu amarrei ele depois
Eu saí pelo tal campo tão triste, tão amolado Era um frio do mês de junho seu corpo estava gelado Já era uma meia-noite quando eu cheguei no povoado Deixei na porta da igreja e fui chamar o delegado
A morte deste rapaz mais do que eu ninguém sentiu Deixei de lidar com gado minha inclinação sumiu Quando lembro essa passagem franqueza me dá arrepio Parece que a friagem das costa 'inda não saiu
Compositor: Adauto Ezequiel (Carreirinho) ECAD: Obra #30737 Fonograma #260658