Eu nasci como nasce qualquer vagabundo Até hoje eu não soube quem foram meus pais Cresci nas tabernas ao som das garrafas Pescando de linha na beira do cais
Se almoço eu não janto, se janto eu não ceio Pra mim é o bastante comer uma vez Pra casa não levo nenhum desaforo Visito a cadeia dez vezes por mês
Nas noites escuras se tenho dinheiro Às vezes eu me enfio num grosso pifão Se a noite é de lua me encosto na esquina Cantando modinhas com meu violão
Lá pra meia-noite se o sono me aperta Então eu me deito em qualquer lugar E as pedras da rua é o meu travesseiro E a porta da igreja me serve de lar
Se saio na rua disposto a brigar Todos se intimidam da minha navalha E assim vou vivendo sem era e nem beira Gozando as delícias da vida canalha
Lenço no pescoço, cigarro no queixo Chapéu desabado, viola na mão Se encontro uma briga já vou provocando E se topo, a poeira levanta do chão
Um dia fui preso por quatro soldado Numa briga que eu fiz no bar do café Valeu a firmeza que eu tenho no pulso Valeu a destreza que eu tive no pé
Lhe dei uma pernada que o chapéu voou Era levantar e tornar cair Faço isto pra dar serviço à polícia Até que a morte se lembre de mim
Compositor: Adauto Ezequiel (Carreirinho) ECAD: Obra #34603 Fonograma #12700643