Sexta-feira à meia-noite Eu já estava deitado Quando escutei um barulho Levantei desconfiado
Era um velho macumbeiro Das bandas da Água Rasa Que veio fazer despacho No portão da minha casa
De dentro eu assistia Pela fresta da vidraça Tinha quatro vela acesa E um litro de cachaça
Tinha uma galinha preta E um sapo morto no chão Deste jeito ele falava Ajoelhado em meu portão
declamado: (“As corrente indiana fincam no espaço Os corredô das caatinga do norte Há de baixá no terreiro desta casa Pra enrroletrá a vida deste cabra Nesta casa todas as coisas tem que ir por água abaixo A paz há de se transformá em desespero O amor há de se transformá em ódio O sorriso há de se transformá em lágrima E a felicidade há de transformá em eterna separação”)
Eu dei um pulo pra fora Dei um grito no terreiro Quando cheguei no portão Não vi mais o macumbeiro
Das velas fiz uma cruz Queimei em cima do sapo Mandei a pinga pra goela E a galinha foi pro papo
Esse velho macumbeiro De tudo se arrependeu O mal que ele me fez Ele mesmo recebeu
Meu avô sempre dizia Um ditado verdadeiro Que às vezes o feitiço Vira contra o feiticeiro Que às vezes o feitiço Vira contra o feiticeiro