Vai um remador Ligeiro no rio Clamando a mãe natureza Trazendo expressão de incerteza no olhar A mata virgem que secou Nem o nativo resistiu
E os filhos do sol Herdeiros do chão Sem pátria aproam no rumo do nada E se afogam num mar de lágrimas Entristecem Deus tupã Até o luar do céu sumiu
Vai um beija-flor Errante no céu Perdido no tempo na sua canoa Lança o ribeirinho seu cantar Olha seu moço o meu pão Vem desse chão e desse rio
Deixe a lua de prata Descansar seus raios No verde das matas No fio dessas águas Lagos e campinas E aningas Deixa viver minha nação Só preservar sem destruir
Amazônia, amazônia Minha vida, minha insônia Não podes ser pó de queimadas Sussurra o murmúrio das águas
Amazonas, amazonas Minha rua, minha infância Encontro de todas as raças De vento adoçado e cascatas
Mas o caboclo É forte, valente e guerreiro Defende a selva do qual aprendeu a ser amante Entre o verde e o caboclo Um caso de amor caprichoso
Meus filhos e minhas filhas Não deixam meu rio morrer E nem a verde mata queimar O reflexo nessa água límpida E esse lindo manto verde Cantam os eventos e as recordações Da vida de meu povo Eu só quero um lugar Onde eu possa ouvir A voz solitária do vento E a conversa dos sapos Em volta de um brejo Já não posso mais falar Minha voz já não se ouve E peço à nova geração Que honre a memória De seus ancestrais Não deixem meu rio morrer Não deixem o verde queimar Não deixem meu chão Virar deserto