Enquanto meus olhos, rasos, acompanham grotescos pingos de chuva, o velho vinil lateja aos bêbados algumas frases soltas antilusão.
Ponteio a claridade do ocorrido, e mesmo embevecido guarneço de reputação para analisar a melancolia daquele momento.
Porque o vento úmido desse sítio me faz lembrar o passado? E não só vento úmido tapeia meu semblante.
O cheiro daquela grama recheada de pingos do céu, a música que se compõe no bater de gotas na calha enferrujada, um amigo a queixar da grafia errada num disco de Paul e outro a saciar o desejo incontido de balburdia plena no chão gelado.
Tudo isso é passado, o palco a varanda, que de agora visto a neblina que se desenha nas montanhas de Minas Gerais.
E penso avacalhado, porque vento, cheiro de grama, música, vinil, chão gelado e neblina causam impacto afim de desguarnecer meus alicerces racionais.
Agora não sou mais um sujeitinho de cabelo armado e barba por fazer. Faço uso capião das minhas lembranças e sou um moleque com vento, cheiro de grama, música, vinil, chão gelado e neblina , cercado de amigos que ali não tenho.
E fico sem saber, se do meu olho escorre uma lágrima ou um pingo de chuva qualquer.
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