A bença Manoel Chudu O meu cordel estradeiro Vem lhe pedir permissão Pra se tornar verdadeiro
Pra se tornar mensageiro Da força do teu trovão E as asas da tanajura Fazer voar o sertão
Meu moxotó coroado De xiquexique e facheiro Onde a cascavel cochila Na boca do cangaceiro
Eu também sou cangaceiro E o meu cordel estradeiro É cascavel poderosa É chuva que cai maneira Aguando a terra quente Erguendo um véu de poeira Deixando a tarde cheirosa
É planta que cobre o chão Na primeira trovoada A noite que desce fria Depois da tarde molhada
É seca desesperada Rasgando o bucho do chão
É inverno e é verão
É canção de lavadeira Peixeira de Lampião As luzes do vaga-lume Alpendre de casarão A cuia do velho cego Terreiro de amarração O ramo da rezadeira O banzo de fim de feira Janela de caminhão
Vocês que estão no palácio Venham ouvir meu pobre pinho Não tem o cheiro do vinho Das uvas frescas do Lácio Mas tem a cor de Inácio Da serra da Catingueira Um cantador de primeira Que nunca foi numa escola*
Pois meu verso é feito a foice Do cassaco cortar cana Sendo de cima pra baixo Tanto corta como espana Sendo de baixo pra cima voa do cabo e se dana**
*Ivanildo Vilanova, fragmento de um improviso **Manoel Chudu