São quatro da manhã

e eu estou deitada com minha cabeça

contra o assento do vaso sanitário

Já faz alguns dias que estou morando aqui

Cansada demais para dormir, doente demais para comer

Eu me sinto um monstro e não ajuda

você me tratando como se eu tivesse veneno nos dentes

Porque eu sou a aranha no seu banheiro

Eu sou a sombra no azulejo

Eu vim para me abrigar do frio

E pensei em ficar um pouco

Estou apenas pequena, apenas fraca

E você pula ao me ver

Você vai me matar quando eu menos esperar

Deus, como eu poderia pensar em sequer existir?

Com essa aparência, eu sou horrível

Eu não sou nada além de pernas, eles costumavam dizer

Hoje em dia não sou nada além de pele e osso

Você me balança alto sobre o ralo

e me diz que tenho sorte de você não me deixar lá e

Me deixar descer pelo ralo ou me expor

Ao me prender para sempre entre um copo e um prato de jantar

Porque eu sou a aranha na sua cozinha

tecendo teias a cada ano

E trabalhei muito duro no último

mas o último me trouxe aqui

Estou cuidando da minha vida

mas minha presença faz você xingar

Eu deveria estar melhorando, mas só estou piorando

E, Deus, como ouso pensar

em escolher este lugar para morrer?

Porque aí sou apenas um problema

que você tem que jogar no lixo

E sei que você odeia me ver

Eu te assombro quando você está dormindo profundamente

Eu tenho oito pernas, um milhão de olhos

Se ao menos eu tivesse mais oito vidas

Porque eu sou a aranha no teto

e você não passa de um cara

Você não gosta quando eu choro

você me quebraria se tentasse

E você vai tentar porque eu ousei estar viva