Quando eu era garoto, no meu bairro

Nessas cidades onde nada acontece

Todos os meus balões foram furados

Eu nunca tive férias de verdade

Sozinho, cara a cara com o mar

Quando o coração bate num ritmo compassado,

gaivotas voam pelo céu

Eu não pedi nada, eu não tive nada

Eu não dei nada, eu não recebi nada

Eu nunca joguei bolinhas de gude

Quando eu era garoto, no meu bairro

Eu era preso à minha família

Como uma vítima à sua fogueira

Eu nunca fiz passeios

Sozinho, cara a cara com o vento

Eu lia "O Marquês de Sade"

E já amava os poemas...

Eu não pedi nada, eu não tive nada

Eu não dei nada, eu não recebi nada

As fadas não voavam

Quando eu era garoto, no meu bairro

Elas viviam apenas para seu próprio benefício

Elas eram todas sindicadas

Eu não vi nas histórias

A carroagem da Cinderella

A minha tinha um vestido sujo

Mas ela não tinha sapatinho...

Eu não pedi nada, eu não tive nada

Eu não dei nada, eu não recebi nada

Entretanto eu já tinha sorte

Quando eu era garoto, no meu bairro

E não dava importância

Ao que os outros pensavam

E eu não vi na história

Nem guerreiros nem reis,

sedentos por dominação ou por glórias

Mais orgulhosos que eu...

Eu não pedi nada, eu não tive nada

Mas eu fiz... tudo o que eu queria!