Nando Reis

A Tulha

Nando Reis


Sombras brotam sobre o chão
Do alto sólido avião destoa
Reflexo

Ondas valsam convulsão
O mar revolve pedra em grão, garoa
Conexo

Cinco dedos cada mão
São cinco filhos, quatro irmãos na soma
Convexo

Sinto medo sem razão
Eu cismo tenso em aflição à toa
Perplexo

Tudo penso o pensamento
é muito aumento escuro alento que vai lento
ali no centro está dentro e nunca sai

E as crias, a magia, nostalgia, analogia, alegria
Ficou pra trás

Vivo com nostalgia e tristeza a lembrança de minha infância
Desconhecido medo e incessante sonho
Ladeados no banho do dia a dia gélido e escaldante
Sexo elétrico enfrento percorrendo o corpo

Rio despencado como catarata do Iguaçu paulistano
Despencando do hemisfério morte do cérebro azul
Como sangue de um Reis para um hemisfério cumilical
Feito avesso de nutrição e fezes
De reza, sopa de biblinha
Mais velocípede de roda de pipoca, igual eu
Nas pedras cor de tijolo e muro de canjiquinha

O mesmo eu
Único diluto no féretro do peixe morto ex-dourado
Enfiado num caixão caixinha de fósforo
sepultado no cubo canteiro

Ao lado da capelinha, dois solenes soldados
botijões impávidos a gás
a soluçar inaudíveis parcas lágrimas
evaporadas em pesar profundo

E eu, anelado pelo medo letal
Medo de sempre
Mesmo medo
Medo e medo mesmo
De demonstrar o medo
De mostrar ter medo
De chorar por medo
De morrer de medo e dor
Medor

Secura potável na esponja encharcado
do meu pensamento infernal
Do fogo do inverno
Com o gozo do inferno fui parido
Não nasci
E não nascido por não nascer
Fui achado dentro de um coador de pó café
Jogado numa lata de lixo de metal sem tampa
Pinto no lixo
Me refestelei dessa solitária inusitada condição

E as fagulhas
As patrulhas
Aleluia
Cuia em cúria
Se borbulham
Milho a tulha que debulha
Se ajoelha
Sob os soltos pobres grãos

Eram sonhos
Só sonhos
Era carnaval
Não tem hora pra acabar

Ter pais que me deram nome e sobrenome
Que me deram paz
Pais, origem

Genes de grãos torrados
Moídos, coados, sorvidos
Da prata manjedoura
Rubro Cristo na encruzilhada de querer mais não

Morrer pelos pecados dos outros
Sem poder pecar os meus
E como pequei
Essa é a história de um pecador
Não sido num lado de baixo do Equador
Brasil, São Paulo capital
Jardim paulistano
Rua Santa Cristina
Duzentos e dezessete
Compositor: Publicado em 2024 (05/Jun) e lançado em 2024 (04/Jul)ECAD verificado fonograma #52211274 em 22/Jun/2024 com dados da UBEM

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