Vagalume - 20 de Abril 2007

por Leandro Saueia


Talvez nem todos saibam, mas quando a turnê "Vertigo" do U2 baixou por aqui no ano passado, a banda que a princípio abriria os shows seria o Keane. Para a gravadora seria bom já que ambos artistas estavam na mesma empresa e assim tudo ficava em casa. A escolha do Franz Ferdinand parece ter sido feita pelo próprio Bono Vox (vocalista do U2) e como a gente sabe, se ele falou tá falado.

Vendo agora a troca foi boa e má. Boa porque o Franz Ferdinand, que em tese faz um som de mais difícil assimilação, se beneficiou muito com a grande exposição trazida com as apresentações e terminou por se tornar uma anda famosa por aqui. Má porque o Keane (que abriu shows do U2 em outras partes do mundo) foi considerado a melhor banda de abertura que os irlandeses já tiveram em toda a sua história. Claro que deve haver algum exagero nisso (afinal Pretenders, Lou Reed, Pixies, Public Enemy, Oasis, Killers e até o Pearl Jam já desempenharam a função) mas mostra que o trio foi bem recebido por uma plateia grande e variada.

O resultado é que tivemos que esperar um pouquinho mais para ver o Keane por aqui e, com o perdão do clichê, não é que a espera valeu a pena?

O Keane chegou ao Brasil numa posição engraçada: são muito grandes na Europa, vendem bem na América e por aqui se não são cults, estão longe de serem ultra-populares. Talvez isso explique o Credicard Hall um tanto esvaziado (além de outros fatores como os shows de Aerosmith e Evanescence quase juntos). Mas a estrutura toda do grupo é de banda grande: telões especiais, cenário bacana e até uma passarela para Tom Chaplin cantar no meio do povo.

A dúvida que existia era saber se uma banda com um formato tão minimal (piano e teclados, bateria e voz) seguraria bem uma apresentação ao vivo. No começo com o som um pouco baixo a impressão é que não iria, mas o problema foi logo resolvido e assim como em disco, ao vivo quase não se sente falta de guitarras no som da banda. Se alguém também tinha dúvidas de que Tom Chaplin é um dos grandes cantores do novo rock, essas também desapareceram. Com uma voz segura ? mesmo nos agudos mais difíceis ? ele é o trunfo da banda e o motivo que pode levá-los à patamares mais altos.

Há quem ache que todo rock deva ser rude e mal-encarado, uma coisa de clube fechado. Para esses talvez seja difícil então entender e gostar de bandas de pop melodioso como o feito por Travis, Coldplay e Snow Patrol além do Keane (e quando as retrospectivas dessa década saírem pode apostar que esses nomes vão sempre aparecer juntos). Mas se rock serve para marcar posição e um certo individualismo, ele também serve para unir e trazer uma certa "comunhão" na falta de termo melhor. E é basicamente esse sentimento que o trio fez questão de fazer de tudo para que ele fosse extravasado. Do set-list bem amarrado (tirando um certo exagero nas baladas lá pelo meio) aos vários discursos de agradecimento (que pareciam realmente emocionados) tudo parece ser feito para que a platéia se sinta bem e feliz de estar ali. Parece óbvio? Sim, mas quem tem uma certa milhagem de shows sabe que raramente isso ocorre de forma satisfatória e sincera.

Com pouco mais de uma hora de show e a execução de boa parte de seus dois únicos discos, não se pôde reclamar do repertório escolhido (outra grande vantagem em se ver um artista mais recente). Os destaques foram além dos grandes hits ("Crystal Ball", "Everybody's Changing", "Is It Any Wonder?" e "Somewhere Only We Know") o final climático com "Bedshaped". O sorriso estampado no rosto da plateia, bastante variada, na saída (de senhores de meia idade e fãs de indie rock até garotinhas histéricas que devem ter aprovado o novo visual do vocalista Tom Chaplin bem mais magro do que a gente acostumou a ver nos clipes) mostram que a banda está no caminho certo e deve durar quando muitas das novas sensações do rock já tiverem sumido.