Vinicius de Moraes
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O Poeta E A Lua

Vinicius de Moraes

Como Dizia o Poeta


Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela rua
Seus olhos verdes de Ă©ter
Abrem cavernas na lua.
A lua volta de flanco
Eriçada de luxĂșria
O poeta, aloucado e branco
Palpa as nĂĄdegas da lua.
Entre as esferas nitentes
Tremeluzem pĂȘlos fulvos
O poeta, de olhar dormente
Entreabre o pente da lua.
Em frouxos de luz e ĂĄgua
Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De palidez e doçura.
Ardente e desesperada
A lua vira em decĂșbito
A vinda lenta do espasmo
Aguça as pontas da lua.
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delĂ­rio de volĂșpia.
O gozo aumenta de sĂșbito
Em frĂȘmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua.
O orgasmo desce do espaço
Desfeito em estrelas e nuvens
Nos ventos do mar perspassa
Um salso cheiro de lua
E a lua, no ĂȘxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Depois a lua adormece
E mĂ­ngua e se apazigua...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas
Enquanto a noite enlouquece
No seu claustro de ciĂșmes.


(por Anderson PINKY Castro)

Compositor: Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes (Vinicius de Moraes)
ECAD: Obra #141488 Fonograma #594986

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