Na triste história das misérias de uma vida fui o Rei, jogado às traças em seu próprio castelo, acorrentado, perseguindo vagalumes e palavras de duas pontas, prontas pra cortar os fios que movem estas pernas e fazem o Rei dançar, esperando o cadafalso se abrir para conquistar a existência em tua atenção, quando ao ar chutar estes ossos, e você aplaudir.
Quem me ama me abandonou, quem me protege deixou entrar a doença em meu quarto e quem me quer bem fez notar a indiferença frente a meu corpo deslizando à queda sem fim... Quem me dera desaparecer antes de questionar.
"Consentes a esmola calado... Calado... Consentes a esmola... Quem vai cuspir insetos? Quem vai cuspir insetos? Meu irmão sim, não eu... Meu irmão sim..."
A mim a palavra não conforta, vem sim da língua da serpente e da inveja, fonte da ruína. A mim o bom esquece e só o mau vem sentar-se a mesa e ranger os dentes para roubar toda comida.
A mim foi erro não pensar que esquecer fosse um vício e que meus erros viriam para tirar de mim o que tinha e entregar àqueles que cospem na terra em que meu amor fincou sua raíz.
Quem me ama me abandonou, quem me protege deixou entrar a doença em meu quarto e quem me quer bem fez notar a indiferença frente a meu corpo deslizando à queda sem fim... Quem me dera desaparecer antes de alcançar o outro lado da estrada, e perceber que eu, se fui Rei, fui Rei das chagas que o dia exibe como troféu na cabeça degolada aos plebeus, erguida ao mundo na estaca para que possa ver que o Rei do Nada sequer teve um nome para gravar na pedra e cobrir de flores.