"Sentado à beira do fogo Sentindo o peso da idade Tão triste o velho tropeiro Quase morto de saudade Oitenta anos nas costas Sempre lidou com boiada Mas nunca em suas andanças Deixou um boi na estrada Agora não pode mais Seu corpo velho e cansado Às vezes fica caducando E começa a gritar com o gado Eira boi, eira boiada Se assusta, recobra os sentidos E de novo fica calado Este velho de oitenta Muito pra mim representa Ouça os meus versos rimados
Tropeiro velho, que tanta tristeza Esconde o rosto na aba do chapéu Olhos cravados no fogo do chão Olha a fumaça subindo pro céu Quebra de um tapa o seu chapéu na testa Esqueça os seus oitenta e janeiros Repare os campos Lá vem a boiada Pela estrada gritando tropeiro Tropeiro velho não levanta os olhos Não tem mais força, é o peso da idade *Acabrunhado à beira do fogo está morrendo de tanta saudade*
Tropeiro velho, sou um moço novo Uma proposta te farei agora Me dá teu pala, o relho e o chapéu Bombacha, botas e o par de esporas Me dá o cavalo e o arreio completo Vou continuar no teu lugar tropeando Tropeiro velho levantou os olhos Sentado mesmo me abraçou chorando Beijou meus rosto e foi fechando os olhos Me entregou tudo e morto tombou *Morreu feliz por que vou continuar As tropeadas que ele tanto amou*
Enterrei ele na beira da estrada Pra ver a tropa que passa e se vai Leiam na cruz vocês vão saber Tropeiro velho era o meu próprio pai Adeus meu pai, tropeiro dos pampas Teu pensamento cumprirá teu filho Estou fazendo aquilo que fizeste Grito à boiada encima de um lombilho Tropeiro velho hoje descansa em paz Estou fazendo aquilo que ele fez *Os anos passam também fico velho vou esperando chegar minha vez* "
(Raquel Perret)
Compositor: Vitor Mateus Teixeira (Teixeirinha) ECAD: Obra #41343 Fonograma #1717106