Senhoras e senhores Vamos apresentar neste momento O nosso conhecido candidato Dr. Pereira
Eleitores de Caneleira Meus conterrâneos e amigos Eu, o Dr. Pereira, sempre cumpro o que digo Se nada fiz por vocês durante esses quatro anos Eu vou explicar o motivo Você sabem que eu não engano É porque o adversários não me deixaram trabalhar Ao recordar me emociono e chego quase a chorar Eu sou igual a vocês, um homem simples do povo Para salvar o sertão estou na luta de novo Vejam os senhores Eu nem fiz a barba e querem ver meu almoço? É este sanduíche de queijo que trago aqui no meu bolso Por isso conto com vocês para a minha reeleição Para matar na raiz a maldita oposição
Muito bem, Dr. Pereira, o senhor se lembra de mim?
Olá Zé Gavião! É claro, me lembro sim Você é o meu velho amigo da fazenda Viradô Vem me contar, você trouxe consigo mais eleitor?
Eu trouxe dois caminhão da fazenda Viradô Cheinho para assistir o seu comício, douto
Muito bem, Zé Gavião! Você é um caboclo franco Compreendeu a minha luta em prol do homem do campo Vem, suba aqui no palanque, diz ao povo de sua terra quem é o Dr. Pereira, um homem de alma sincera
Pois eu quero falá mesmo pra todo esse povo ouvi Mas me dá cá sua mão pra eu podê subi
Pois não, pegue a minha mão, venha Suba para cá, vamos suba, pronto aqui está
Obrigado, Dr. Pereira Mas quando o Sr. me puxou, pra subi fiz tanta força que a minha carça rasgo
O que? Não faz mal! Ela rasgou em defesa da minha luta tenaz Se eu for eleito, Zé Gavião, novas calças tu terás E lhe darei calças novas e não uma rasgada atrás Sim, meus senhores Eis aqui ombro a ombro comigo um homem simples do povo Mas estimo como amigo Zé Gavião, diz com franqueza a esses nobres senhores Trouxeste lá da fazenda dois caminhões de eleitores?
Não. O Sr. tá enganado Eu trouxe dois caminhão, mas foi de batata doce, ovo choco e mamão pra atirá na sua cara seu Pereira tubarão pra nunca mais ir menti ao caboclo do sertão
Zé Gavião, você está louco, assim você me arrasa!
É isso mesmo. O senhor se lembra quando eu tive em sua casa? Disse que não me conhecia, encheu-me de desaforo Bateu- me a porta no rosto como se eu fosse um cachorro! Não, Zé Gavião, eu explico, é que eu estava ocupado com visitas em minha casa Gente de bem, deputados, se eles me vissem eu conversando com um caboclo rude assim Perante os meus colegas ficava feio pra mim!
Ah! seu pilantra E por quê, agorinha o senhor falô que tava de ombro a ombro com os homem trabaiadô! Só pra pegá nosso voto e enganá nós outra vez? Mas vô te falá uma coisa, aqui acabou seu freguês!
Mas Zé Gavião!
Tu se lembra que eu jurei de um dia me vingá? Pois hoje chegô o dia de conta nóis acertá Caboclada, vocês tão pronto pra batáia começá? Prepara os ovo e tomate, capricha pra não errá Atire mesmo na cara na hora que eu abaixá Caboclada, tudo pronto? Então ovo nele, vai, já! Corre, Dr. Pereira, tu vai tê que se lavá Três dia com creolina para a catinga tirá Não vorte mais no sertão, tamo cheio de promessa! O povo de Caneleira não vai mais na sua conversa Ah! ah! Agora tô satisfeito! E falo de coração Se em cada vila tivesse três ou quatro Zé Gavião Garanto que em pouco tempo nóis endireitava o sertão